Bahia

Educação do campo

Congresso internacional sobre movimentos sociais e educação será realizado na UFRB

Inscrições para submissão de trabalhos estão abertas até 15 de setembro

Salvador |
Congresso internacional acontece no Centro de Formação de Professores da UFRB, em Amargosa (BA) - Priscila Regina de Assis Silva

Socializar experiências educacionais de movimentos sociais do campo e da cidade para fortalecer alianças e estratégias de incidência. Este é o principal objetivo do IV Congresso Internacional; VI Congresso Nacional Movimentos Sociais e Educação e do Seminário 10 Anos do Mestrado Profissional em Educação do Campo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). A atividade que engloba os três eventos será realizada entre 28 de novembro e 1º de dezembro, no Centro de Formação de Professores da UFRB, em Amargosa (BA). As inscrições com submissão de trabalho estão abertas até 15 de setembro e podem ser feitas pelo site do evento.

Com o tema mobilizador “Movimentos sociais, resistência e emancipação”, os eventos pretendem ser espaços de debate e fortalecimento de estratégias para reconstruir as políticas de educação após um período antidemocrático marcado por inúmeros retrocessos, a exemplo do fechamento de escolas do campo, a retirada das pautas de gênero e a ameaça às políticas afirmativas. Para a coordenadora do programa de Pós-Graduação em Educação do Campo da UFRB, Ana Cristina (Kiki) Nascimento Givigi, o próprio tema e a realização de um congresso internacional e nacional que tenham como dispositivo a relação entre movimentos sociais e educação neste momento de reestruturação do país é muito importante.

“Temos políticas públicas a serem reconstruídas, relações formais a serem retomadas, conselhos, participação da comunidade na escola e na educação. Portanto, o Congresso é um momento de agregação das pesquisas e das lutas dos movimentos sociais que afirma a educação como instrumento de transformação do país”, destaca Kiki. Ela reforça ainda que o evento pretende ser espaço para fortalecimento dos movimentos. “Esperamos que esse espaço contribua para retomar a aliança entre os movimentos sociais – que tiveram que lutar pela manutenção das suas rotinas e das suas lutas – também na perspectiva de exigir do novo governo que as nossas pautas sejam ouvidas e que possamos construir autonomia de defesa dessas pautas”, afirmou.

Programação

Os congressos e o Seminário de 10 anos do Mestrado Profissional em Educação do Campo vão reunir representantes de movimentos sociais, professores do ensino superior e da educação básica, estudantes da graduação e da pós-graduação. Também apresentarão trabalhos pesquisadores nacionais e internacionais, de países como Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México e Venezuela.

O evento será híbrido/semipresencial, com toda programação transmitida pela TV UFRB. Serão realizadas conferências, mesas redondas, apresentações de trabalhos e relatos de experiências, além de atividades culturais, lançamento de livros etc. Os congressos são promovidos pelo Programa de Pós-Graduação em Educação do Campo da UFRB e pela Rede Latino-americana de Pesquisa em Educação do Campo, Cidade & Movimentos Sociais (Rede PECC-MS).

O mote central do evento se desdobra em 13 eixos temáticos que vão reunir os trabalhos que serão selecionados. Desafios e perspectivas para as juventudes do campo; agroecologia, sustentabilidade, segurança alimentar e nutricional; educação e relações étnico-raciais; pedagogias críticas na América Latina são apenas alguns dos temas que estão recebendo inscrições para apresentação de pesquisas e relatos de experiência.   

Professora da educação básica de escolas do campo no município de Teofilândia (BA) e professora substituta na UFRB, Selidalva Gonçalves de Queiroz, pretende apresentar os estudos em andamento no doutorado em Educação que está cursando. “A pesquisa está relacionada com o plano de ensino para educação básica nas escolas do campo, a partir das turmas multisseriadas do município de Amargosa (BA)”, explica Selidalva. Ela é uma das egressas do Mestrado Profissional em Educação do Campo que celebra 10 anos de existência com seminário que integra a programação dos congressos.

Seminário

O Mestrado é oferecido desde 2012 pelo PPGEDUCAMPO da UFRB. Mesmo havendo vários programas de pós-graduação que produzem pesquisas em educação do campo, este é o único Mestrado em Educação do Campo existente no Brasil. Sediado no Centro de Formação de Professores (CFP), campus Amargosa (BA), ao longo do seu percurso, já diplomou 102 pessoas de vários estados: Bahia, Maranhão, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro e de todo o nordeste brasileiro.

Com relação ao perfil dos estudantes, são militantes de vários movimentos como Movimento Sem Terra (MST), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento de Mulheres Campesinas (MMC), Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), entre outros. Também se candidatam e são aprovados no curso, professores das escolas do campo, militantes de movimentos sindicais, negros, de mulheres etc. “O nosso mestrado é um retrato da pluralidade do campesinato brasileiro e das questões conflituosas que se colocam para a ressemantização deste campesinato”, ressalta Kiki.

Segundo a coordenadora, o curso agrega experiências educativas vivenciadas pelos povos do campo, desde a invasão portuguesa no Brasil. “Desde lá, nós colecionamos técnicas de cultivo, uma história e uma experiência pedagógica dos nossos povos com a terra. Nesse sentido, entendemos que um projeto de educação e a pesquisa em educação faz parte de um programa de reforma agrária, de um programa de redemocratização da terra no Brasil e de mais do que isso, de superação da visão produtivista da terra para tomá-la como um espaço ontológico de ser e viver”, reforça.

O Seminário de 10 anos vai ser, portanto, um espaço para rememorar a história do programa e também para reunir os egressos e compreender onde estão agora, o que estão produzindo, como estão atuando e qual o impacto de suas produções na sociedade. “Convidamos a comunidade para entender que este lugar de produção de pesquisas em educação do campo é um lugar também de promoção, divulgação e de valorização das experiências educativas das pessoas do campo e de como essas experiencias têm conservado tradições, produzidos inovações e defendido a escola pública no campo”, avalia Kiki.

Durante o mestrado, Selidalva desenvolveu uma pesquisa sobre a migração de jovens da Comunidade de Maria Preta, em Teofilândia (BA), e os desafios para a educação do campo. “Meu interesse em cursar o mestrado vem da necessidade de compreender, profundamente, o campo brasileiro e suas contradições expressas na disputa de projeto de escolarização para a classe trabalhadora, assim como as possibilidades de superação do agronegócio, expressão do capitalismo no campo brasileiro”, conta a egressa.

Ela explica ainda que o curso a ajudou na compreensão da realidade do campo e elementos para incidência na realidade. “O mestrado trouxe elementos da teoria e da prática que a ajudaram avançar na compreensão da realidade concreta, sobretudo no momento específico do desenvolvimento da pesquisa a partir da problemática geral das condições de migração da juventude do campo para os grandes centros urbanos”, diz.

Essa relação orgânica entre teoria e prática é o principal diferencial do Mestrado Profissional de Educação do Campo que tem como base a metodologia da pedagogia da alternância, na qual os estudantes se revezam em um tempo na universidade e outro na comunidade. Segundo Kiki, é esta metodologia que “orienta e estrutura o nosso projeto político pedagógico, na medida em que se aprende com os povos do campo um outro modo de tempo e espaço para a construção do conhecimento e que as políticas públicas podem e devem utilizar-se dos tempos e espaços das ruralidades para construir conhecimento”.

Para Selidalva, essa metodologia também permite o acesso e permanência no ensino superior. “A alternância oportuniza o acesso e permanência no ensino superior aos filhos da classe trabalhadora que não conseguem deslocar-se diariamente para a universidade em função de um conjunto de elementos que caracterizam as questões objetivas da vida: trabalho, envolvimento nos movimentos sociais, localização da universidade, entre outras”.

Serviço

O quê: IV Congresso Internacional e VI Congresso Nacional Movimentos Sociais e Educação e Seminário 10 Anos do Mestrado Profissional em Educação do Campo da UFRB
Quando: 28/11 à 1/12/2023
Onde: Centro de Formação de Professores da UFRB – Amargosa (BA)
Inscrições: Estão abertas as inscrições para submissões de trabalhos até 15 de setembro pelo site do evento. Inscrições sem submissões de trabalho podem ser feitas até o dia que antecede o início do evento.

Edição: Gabriela Amorim