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Enchente

Famílias de Juazeiro (BA) revivem pesadelo de enchentes um ano após tragédia de 2022

Moradores do bairro Angari que moram à beira do Rio São Francisco aguardam realocação por parte da prefeitura

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Famílias do Bairro Angari serão retiradas de suas casas por conta da cheia do Rio São Francisco, em Juazeiro, intensificada pela abertura de comportas da CHESF. - Marcos Souza/MAB

Um ano depois de serem atingidas pelas fortes chuvas e pela abertura das comportas da Usina Hidrelétrica de Sobradinho, de propriedade da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF), as famílias do bairro Angari, em Juazeiro (BA), estão revivendo o mesmo drama, com o aumento do nível da água do Rio São Francisco.
 

Após o aviso da CHESF sobre o aumento da vazão, a Secretaria de Desenvolvimento Social, Mulher e Diversidade (Sedes) e a Defesa Civil do município deram início a um processo de realocação de sete famílias que moram na parte baixa do bairro. Mais da metade dos moradores que vivem na área de risco, porém, ainda não foram transferidas. 
 

De acordo com Elaine Brito, moradora do Angari, o risco é constante. “A falta de resposta do poder público e da CHESF sobre nossa situação é muito preocupante e nos deixa em pânico, com muita ansiedade. Há dias, estamos esperando um retorno da Prefeitura sobre a nossa mudança e nada. Fizeram a mudança de alguns e deixaram os demais. A sensação é que somos esquecidos”, relata.
 

Marcos Souza, integrante da coordenação do MAB, demonstra preocupação com a segurança dos moradores e alerta sobre a necessidade de remoção urgente das famílias que sofrem com o risco da inundação de suas casas. “É imprescindível que exista uma comunicação mais eficaz por parte da Prefeitura com os atingidos, além de um trabalho mais ágil de remoção, porque o povo está vendo a água bater na sua porta e tem pressa! As pessoas não sabem para onde vão, ou quando”, ressalta.
 


Aumento da vazão de hidrelétrica da CHESF coloca atingidos em risco em Juazeiro. / Marcos Souza/MAB


Segundo a Defesa Civil do município, o aviso da CHESF sobre a vazão não foi feito de forma eficiente e muitas famílias estavam com receio de serem alojadas em escolas, como aconteceu ano passado, longe do rio, que é sua fonte de sustento.
 

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) vem denunciando permanentemente a conduta da CHESF diante dos alagamentos causados no estado. “Já passou da hora da companhia ser devidamente responsabilizada pelos danos materiais e psicológicos causados na vida das pessoas. A empresa prevê a cheia dos reservatórios, mas não libera a água de forma gradual, porque prioriza o lucro a partir da geração de mais energia. Esse comportamento expõe a responsabilidade sobre os impactos das enchentes para o povo”, analisa Marcos.
 

A CHESF foi recentemente responsabilizada pela Procuradoria Geral do Estado da Bahia (PGE-BA) pelos alagamentos ocorridos no final de dezembro de 2022 em diversas cidades do sudoeste da Bahia, como Jequié.
 

Para a coordenação do MAB, é necessária uma atenção sobre as questões estruturais que provocam alagamentos que expulsam famílias das suas casas há anos. “Os moradores do Angari vivem em constante estado de alerta, sem saberem quando precisarão deixar os seus lares. Isso acontece porque, quando há uma enchente como essa, os órgãos governamentais garantem ajuda humanitária (abrigo e cestas básicas), mas não resolvem o problema de forma efetiva”, afirma Marcos.
 

“Daqui a um ano, as famílias podem entrar em estado de alerta novamente por conta da irresponsabilidade da CHESF. Precisamos que o Estado responsabilize a empresa, invista em políticas habitacionais e também atue na prevenção de desastres ambientais que estão se intensificando”, complementa o coordenador.