Bahia

Violência no campo

Três pessoas são baleadas em atentado a comunidade tradicional em Campo Alegre de Lourdes (BA)

Comunidades do povoado de Angico dos Dias sofreram atentado a bala no sábado (2). Uma pessoa segue hospitalizada

Salvador |
Comunidades de fundo e fecho de pasto estão presentes no território de Angico dos Dias há gerações - CPT-BA

No início da manhã de sábado (2), as comunidades tradicionais do território de Angico dos Dias, em Campo Alegre de Lourdes (BA), sofreram um atentado a tiros na área de fundo de pasto. Três homens foram baleados, dois do território de Angico dos Dias e um agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT) da Diocese de Juazeiro.

Uma das vítimas passou por cirurgia e segue hospitalizada; as outras duas receberam alta ainda no final de semana. De acordo com relatos das comunidades, os tiros foram disparados por pessoas envolvidas na tentativa de grilagem no território.

Ao Brasil de Fato, a Polícia Civil informou que a 17ª Coordenadoria Regional de Juazeiro investigam o caso como tentativa de homicídio motivado por um conflito agrário. A assessoria de comunicação informou ainda que oitivas e diligências estão sendo realizadas no município para localizar o autor.

Desde o dia 25 de agosto, as famílias camponesas das comunidades de Angico dos Dias têm denunciado uma invasão na área de fundo de pasto, na divisa com os municípios de Caracol e Guaribas (PI), a cerca de 700 metros da PI-470 e próxima ao Parque Nacional Serra das Confusões.


Um dos homens baleados no sábado (2) segue hospitalizado; outros dois receberam alta. / CPT-BA

Em carta aberta publicada alguns dias antes do atentado, o Fórum de Entidades Populares de Campo Alegre de Lourdes demonstrava preocupação com a chegada de pessoas estranhas em seu território, inclusive seguranças particulares armados.

De acordo com o Fórum, essas pessoas estariam a serviço de uma empresa agropecuária que teria invadido a área de fundo de pasto das comunidades, que é utilizada há várias gerações pelas famílias para criação de animais. A empresa desmatou a vegetação nativa, transportou maquinário e materiais para o local, fez perfurações no solo, colocou postes de energia e iniciou uma construção.

Em nota, o bispo da diocese de Juazeiro, Dom Beto Brei cobrou punição contra os envolvidos no atentado de sábado. “Os grileiros chegam com ‘documentos’ negando o direito à terra de quem vive em espaços sacralizados pela convivência harmoniosa, pelos firmes passos e pelo trabalho dos seus antepassados”, afirmou o bispo.

As comunidades tradicionais de fundo e fecho de pasto existem, com esta denominação, apenas na Bahia. São formas de ocupação do território típicas do semi-árido baiano, em que comunidades utilizam áreas comunais para criação de gado (bovino, ovino e/ou caprino) à solta, sendo comum também o extrativismo e o cultivo de lavouras em lotes individuais. Devido a essa forma de ocupação dos territórios, as comunidades de fundo e fecho têm sido responsáveis pela preservação de áreas de caatinga e cerrado, dois biomas brasileiros ameaçados.

Edição: Alfredo Portugal