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Sindipetro elege pela primeira vez uma mulher negra para sua diretoria

Elisabete Sacramento é a primeira mulher a assumir a direção em 69 anos

Salvador |
Elisabete Sacramento tem uma vasta atuação na luta antirracista e na militância política brasileira - Divulgação/Sindipetro

Elizabete Sacramento é a nova coordenadora geral do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Petroleiras da Bahia (Sindipetro-BA). Essa será a primeira vez, desde a fundação, que uma mulher negra vai ocupar o cargo mais alto do Sindipetro-BA. A nova gestora assume a direção do sindicato após a saída do ex-coordenador Jairo Batista, que ficou à frente da pasta por quase sete anos.

Bete, como é carinhosamente conhecida, tem uma vasta atuação na luta antirracista e na militância política brasileira. É graduada em Química pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), técnica em Química de Petróleo na Transpetro, Diretora Executiva no Setorial Petróleo da Confederação Nacional do Ramo Químico (CNQ-CUT) e estudante de Educação Sexual e Sexualidade Sistêmica.

Para aproveitar a potência do mês de julho, já bastante emblemático para as agendas de luta das mulheres negras latino-americanas, o Brasil de Fato Bahia entrevista Elizabete Sacramento sobre os novos desafios que se colocam a partir de agora com essa nova gestão.

Brasil de Fato - Como se sente sendo a primeira mulher a assumir a Direção Executiva do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Petroleiras da Bahia (Sindipetro-Ba)? Essa é a primeira vez desde a fundação deste Sindicato que uma mulher negra vai ocupar o cargo mais alto da organização. O que representa pessoalmente e também coletivamente essa conquista?
Elisabete Sacramento - Me sinto desafiada e entrando para a história do sindicalismo petroleiro. É um sindicato que tem 69 anos de história e essa é a primeira vez que uma mulher ocupa esse cargo na Bahia, independente da raça, e a primeira negra no Brasil. Para mim, isso é fruto de reconhecimento e confiança, além de uma oportunidade de crescimento profissional. Coletivamente, é um marco na história das mulheres petroleiras da Bahia, e a consolidação do processo de luta e organização nacional das mulheres que representam apenas 17% da categoria em consonância com a luta mundial.

A sua posse inaugura uma nova perspectiva no Sindipetro-BA. O que a classe trabalhadora sindicalizada pode esperar da sua gestão ao assumir a coordenação geral da entidade? Quais serão as prioridades?
Uma categoria majoritariamente masculina creio que surgem expectativas diversas. Mas o que podem esperar é compromisso com a defesa dos direitos dos trabalhadores e, em especial, das trabalhadoras, independente de ser aposentados/as, pensionistas, ativos/as, Petrobras ou do Setor Privado. Temos muitos desafios dentro da categoria. Fortalecer a confiança da categoria para conquistarmos o fim do equacionamento e dos descontos abusivos para os aposentados, pressionar para que a Petrobras volte a crescer na Bahia e os transferidos tenham condições de retornar, melhorar os acordos do setor privado e a condição para que mais mulheres possam atuar no setor são prioridades no momento.


Bete aponta diversos desafios ao Sindipetro e a importância de fortalecer a confiança da categoria / Arquivo pessoal

Sua gestão será atravessada por um problema antigo. Até maio deste ano, o gás de cozinha teve o terceiro aumento do ano no estado. Qual a relação entre os aumentos de gasolina, gás e diesel com a privatização da primeira refinaria, a RLAM (hoje Mataripe), na Bahia?
Privatizar faz mal ao Brasil. Esse é um problema com o qual o inominável e inelegível presenteou o povo baiano. Empresa privada tem compromissos com o lucro e não com o social, com o povo. Os derivados na Bahia sofrem acréscimos dos custos de importação e de demais etapas da cadeia que eles não possuem na precificação dos produtos. A Petrobras tem toda cadeia produtiva o que viabiliza preços mais justos à população. Mas, pelo bem do povo baiano, continuamos na luta pela reestatização da refinaria.

Uma pesquisa do Observatório do Petróleo aponta que o gás na Bahia, era mais barato do que a média nacional. No entanto, tornou-se o mais caro na média nacional, depois da privatização. Esse estudo também nos mostra que lá no Amazonas onde o gás já era o mais caro, ficou ainda mais. Pode nos explicar melhor as razões disso?
Como eu disse anteriormente, consequência da privatização. Custos da importação e ausência de uma cadeia completa impactam no preço. Mas o pior em relação ao gás é que impacta na vida da população mais vulnerável, reduzindo o acesso ao gás de cozinha e levando pessoas a se acidentarem buscando formas alternativas e perigosas de cozinharem seus alimentos.

Julho já é bastante simbólico para as mulheres negras e latino-americanas por celebrar o “Julho das Pretas”. Você que já tem a trajetória e o nome filiados à luta antirracista e à militância política, como percebe as agendas de resistência e equidade de gênero durante este mês, na Bahia?
Como uma oportunidade de manter em pauta debates urgentes e necessários para reflexão e implementação de políticas antirracistas que promovam uma reparação histórica de forma permanente.

É emblemático que a sua posse aconteça também neste mês. Já tem previsão de alguma atividade para marcar o início dos trabalhos neste mês especial para as mulheres negras?
Sim, assumir essa coordenação no julho que definimos como das Pretas, parece acaso para uns, mas não para quem acredita no poder da nossa ancestralidade. O início dos trabalhos foi marcado ainda no começo do mês pela linda cerimônia de reabertura do Torre Pituba, fechada desde 2019, onde pude falar aos trabalhadores aposentados/as, da ativa Petrobras, terceirizados, diretores, diretoras, gerentes e presidente da Petrobras.

Falando do Julho das Pretas, propriamente dito, tínhamos previsto um ato político ainda esse mês em conjunto com esse momento de reflexão que envolve a luta das mulheres negras, mas optamos por realizar um ato único em agosto com algumas outras mudanças que ocorrerão na diretoria.

Edição: Gabriela Amorim