Bahia

Coluna

Pelas bandas de Barcelona tem vatapá, caruru, acarajé e muito amor

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Sara Lemos em seu Buriti, pedaço da Bahia em Barcelona - Smyrna Jamacaru
Sara foi transformando esse tabuleiro de sentimentos em possibilidade de permanência

Ter uma coluna é parada, a gente quer falar de tudo, de todo lugar, ao mesmo tempo. Hoje vou abrir um espaço e destoar um pouco do que venho escrevendo até aqui. Não falarei sobre ingredientes, nem de história, nem dos aspectos antropológicos da alimentação. Falarei sobre uma amiga, querida, que tenho muita admiração e orgulho: Sara Lemos.

Sara é baiana e, como toda mulher que veio da Bahia, “tem um santo que Deus deu”. Em 2007, Sara arrumou as malas e mudou-se para Barcelona. Pelas bandas de lá, ela estudou cozinha profissional e confeitaria, trabalhou em renomados restaurantes da cidade como o Roca Moo, idealizado pelos irmãos Roca [aqueles do El Celler de Can Roca] e o consagrado Bota Fumeiro, onde se tornou Chef de confeitaria.

Há 16 anos vivendo em Barcelona, Sara, assim como todo negro distante da nação que lhe pariu, experienciava seu banzo. Banzo, é uma palavra que vem do quimbundo: mbanza, “aldeia”, e era como se chamava o sentimento de melancolia em relação à terra natal e de aversão à privação da liberdade praticada contra a população negra no Brasil, na época da escravidão. Dadas iguais ou diferentes proporções, peguei essa palavra emprestada para tentar definir o sentimento, por vezes confuso, de estar longe.
 
Tendo toda razão para sentir saudades, banzos, faltas, ausências... Sarita foi transformando esse tabuleiro de sentimentos em possibilidade de permanência. Depois de anos trabalhando como Chef confeiteira no Bota Fumeiro, Sara sentiu que havia chegado a hora de ter seu próprio restaurante. Pegando emprestado o b, de banzo, em março deste ano, ela plantou, em solos espanhóis, o seu Buriti. Mas o Buriti jamais seria um restaurante qualquer, seria um espaço de encontros e afetos. Com comida regada no dendê e no axé da Bahia, o Buriti virou uma árvore bonita.

Com o seu Buriti, Sara foi do banzo à arte. Não tem arte mais efêmera e mais grata aos sentidos do que a arte culinária de onde nascemos. Saritinha, é tão lindo ver o seu [o nosso, como você me diz] Buriti cheio de sementes/frutos/pessoas/sorrisos gratos por terem em suas mãos, a mão da Bahia.

Vai, minha amiga, é Oxalá quem te guia.

Edição: Gabriela Amorim