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Junho sem milho, que alegria pode ter?

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Milho está presente nas comidas juninas de todo o nordeste - SDR-BA
Coração dos festejos juninos, não dá para pensar o ritual sem este elemento mais que simbólico

Junho chegou, e com ele só se fala uma palavra: milho. Coração dos festejos juninos, não dá para pensar o ritual sem este elemento mais que simbólico. No Nordeste, o grão promove a partilha de traços formais e padronizados, em uma região fundada em inúmeros constructos ideológicos particulares. Da Bahia até o Maranhão, o milho é o rei da interação.

Milho assado, milho cozido, canjica, mugunzá, lelê, bolo de milho, mingau de milho, pipoca, broa... só de lembrar, o cheiro e gosto se unem em minha memória. Reconhecer tamanha tipicidade dessas comidas, só é possível porque sua abundância coincide com a abundância da colheita. Em junho, as operações coletivas materiais e mentais começam com as famílias, no campo e terminam com as famílias à mesa.

A quem devemos tamanha importância do milho em nossa alimentação? Aos nossos povos originários, é claro. Segundo Gabriel Soares de Sousa, o grão tinha uma forte presença na alimentação indígena principalmente no que tange o seu consumo assado ou em forma de bebida. A bebida de milho, cauim de milho, nascia quando os caroços eram mastigados pelas moças velhas das tribos e postos para ferver com água e, em seguida, entregues ao tempo para que fosse fermentada.

A bebida do milho, tal qual nossas comidas juninas, só ganhava sentido quando era consumida em um contexto festivo. Convivência e colaboração coletiva eram fundamentais desde o seu plantio até a sua fabricação e consumo. Os manjares que comemos em homenagem a São João é resultado do intercâmbio daqueles que tiveram o milho das mãos indígenas. Os portugueses [com o domínio das técnicas da doçaria] e os africanos [com o domínio das técnicas de preparação dos mingaus e couscous] foram os grandes aproveitadores deste ingrediente que já era tão importante para a nossa cultura.

São João é tempo de união, xote, maracatu e baião; é a festa de maior brilho porque pamonha e canjica completam a festa do milho, já dizia Gonzagão.

*Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Gabriela Amorim