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Coluna

Financiamento da Curricularização da Extensão e a Educação Integral

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A curricularização da Extensão é a oportunidade para que os estudantes, professores e técnicos das universidades possam estar nas escolas - Foto: Giorgia Prates
Educação Integral é mais ampla do que apenas Educação em tempo integral

A curricularização da extensão universitária pode se converter numa das formas para a efetivação do programa basilar do governo Lula para a Educação Básica, que é a Educação Integral nas Escolas, não somente de tempo integral, mas com uma formação efetivamente de qualidade que trabalhe com a formação ominilateral do ser humano. Essa díade da curricularização da extensão e da Educação Integral pode contribuir para o fortalecimento do “capital social”, no conceito de Robert Putnam, e criar laços de solidariedade social essenciais para uma contra-hegemonia cultural, assim como para responder ao desafio do Ensino Médio, ampliar o acesso e permanência dos jovens nesse nível de ensino e ampliar o acesso à Educação Superior no país. A viabilização da curricularização da Extensão, incluindo seu financiamento, pode contribuir para a permanência dos alunos na Educação Superior, que também é um problema a ser superado se quisermos cumprir o que está disposto do Plano Nacional de Educação no que concerne a esse nível de ensino.

O governo Lula lançou seu programa central para a Educação Básica, que é a Educação Integral. É mais ampla do que apenas Educação em tempo integral ou jornada estendida, pois as escolas devem ser espaço de formação nas artes, nas ciências, nas humanidades, na cultura corporal, na cidadania política e participação social de forma solidária, com cuidados na saúde e com os vínculos sociais e comunitários desses alunos. Uma Educação de qualidade é mais do que treinamento para se alcançar bons resultados em provas de Português e Matemática nos testes de avaliação. Pressupõe uma formação para a vida, tão essencial num momento em que há grande negacionismo da Ciência, intolerância, violência, racismo, ataques às mulheres e à população LGBT, ascensão do neofascismo e nazismo.

A curricularização da Extensão é a oportunidade para que os estudantes, professores e técnicos das universidades possam estar nas escolas e contribuir para a formação desses alunos, enriquecendo essas diferentes dimensões da formação para a vida da Educação Integral, e, ao mesmo tempo, incrementando e melhorando a formação que os alunos das graduações têm com essa interação com a sociedade com a curricularização da Extensão.

Uma via de mão dupla em que a Educação Básica se fortalece, numa concepção de formação mais alinhada com Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, Paulo Freire e Dermerval Saviani. E nas universidades uma formação dos alunos em contato com a realidade social das escolas permite o desenvolvimento de capacidades de trabalhar em grupo, planejamento, compreensão do contexto social, aplicação de conhecimentos para resolver problemas e o amadurecimento social, cultural, político e estético para formar um egresso com uma cultura diferenciada.

Essa relação fortalece os laços de cooperação e confiança social, que são o “capital social” estudado pelo teórico Robert Putnam, que cimentam as sociedades que conseguem se desenvolver mais, não apenas economicamente, mas nas relações sociais e institucionais, da elevação cultural e afirmação da justiça social e solidariedade. As relações de solidariedade social, de dar, receber e retribuir, numa concepção de Emily Durkheim, constroem uma sociedade com uma cultura diferente da competição, da injustiça social e da intolerância que se tornaram o caldo cultural perfeito para a ascensão nazifascista no século XXI. O embate entre civilização e barbárie continua vivo no Brasil e no mundo, e pode contar com uma força de sentido civilizatório com essas relações de cooperação, confiança, justiça social, inclusão e convivência, propiciadas por uma concepção educacional articulando Educação Básica e Educação superior, curricularização da extensão e Educação Integral.

A viabilização dessa relação de mutualismo educacional certamente diminuirá a evasão do Ensino Médio, ao dar sentido e sonho aos jovens, abrindo perspectivas de continuidade de estudos nas Universidades, fortalecendo suas aprendizagens. Essa relação permitirá um situar no mundo, dando sentido à existência nos âmbitos ético, estético, científico e social, transcendendo a razão instrumental das relações econômicas e conferindo sentido à existência humana. Peter Drucker já identificou que as experiências humanas em organizações e instituições que são melhor sucedidas são aquelas que constituem um sentido não instrumental imediato e apresentam uma coesão entre as pessoas em torno de ideias mais transcendentes. Não foi gratuitamente que ele estudou as organizações do terceiro setor e comunitárias que tinham forte engajamento social mesmo sem recompensa financeira, mas fundamentalmente recompensa simbólica e retorno afetivo.

A viabilização desse projeto de Educação e de Sociedade da curricularização da Extensão pode se vincular à política de permanência universitária que já existe no Brasil, a assistência estudantil por meio do Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES). A viabilidade da presença dos alunos em projetos de extensão, que podem ser nas escolas ou comunidades, ao se tornar parte da permanência material dos alunos nas instituições, diminuirá a evasão as instituições de ensino superior. Antes da pandemia, a evasão nesse nível de ensino ficava em torno de 30%, sendo que uma parte se devia à natural mudança de cursos dos alunos e à sua mobilidade dentro do sistema como um todo, mas outra parte da evasão se deve às dificuldades materiais características da sociedade brasileira. Agora que o aluno universitário é mais diverso e houve uma democratização no aceso durante os governos Lula e Dilma, torna-se imperioso garantir a permanência e sucesso desses alunos nas instituições. O PNAES é a alternativa para esse problema sério, que se agravou com a pandemia e provocou uma taxa de evasão em torno de 50% nos dois últimos anos.

Forçoso considerar que enquanto não ampliarmos a política de garantia de permanência dos alunos nas universidades, especialmente nas públicas, o processo de expansão dessas instituições estará comprometido. Não adiantará ampliar vagas para um alunado que em metade dos casos não conseguirá se manter nas instituições.

A ampliação substancial do PNAES fará parte da política mais ampla do governo federal de garantia de renda mínima, e se essa ampliação contemplar bolsas para estudantes participarem das atividades de extensão estaremos garantindo democraticamente a permanência dos alunos e enriquecendo sua formação em um dos três pilares da Universidade: ensino, pesquisa e extensão.

*Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Gabriela Amorim