Paraná

JULHO DAS PRETAS

Opinião. Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha é importante para denunciar o racismo

A mulher negra sofre com os piores índices possíveis, não só no desemprego, mas em relação à discriminação e a violência

São Paulo (SP) |
Aliás, piorou com os ataques do governo neoliberal e de extrema direita de Jair Bolsonaro (PSL) que não tem nenhuma política pública voltada para as mulheres negras - Giorgia Prates

O Dia da Mulher Negra, celebrado em 25 de julho é um dia especial, mas também de luta das mulheres negras por dignidade e melhores condições de vida. As marcas da desigualdade na sociedade brasileira e no que se refere a mulher negra, o impacto é ainda maior do que para o restante da população.

O dia 25 de junho, chamada oficialmente de Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha faz parte das atividades do Julho das Pretas, mês em que a luta ganha visibilidade. No Brasil, pela Lei nº 12.987/2014, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff, a data também passou a ser o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Tereza de Benguela foi uma líder quilombola do século 18.

No Brasil de hoje, não é mais possível debater um projeto de nação e desenvolvimento econômico sem a participação das mulheres negras e da população negra. Pois os três séculos de escravidão deixaram marcas profundas no país e um padrão de desigualdade racial, de gênero e classe pouco mudou.

Aliás, piorou com os ataques do governo neoliberal e de extrema direita de Jair Bolsonaro (PSL) que não tem nenhuma política pública voltado para as mulheres negras.

O país se encontra numa a paralisia social onde as negras e negros amargam os piores indicadores sociais. Na hierarquia de gênero, somos nós, mulheres negras, que ocupamos os espaços mais precários em relação às mulheres brancas, homens brancos e homens negros.

Como diz a música ‘Sorriso negro’, de Dona Ivone Lara, são as mulheres negras que ficam mais ‘sem emprego, sem sossego’. A Taxa de desemprego de mulheres negras é o dobro da de homens brancos.

A mulher negra sofre com os piores índices possíveis, não só no desemprego, mas em relação à discriminação e a violência. Em 2019, a cada 2 horas uma mulher foi assassinada no Brasil. É o que revela o novo relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Atlas da Violência. No total, foram 3.737 vítimas, sendo que 66% delas eram mulheres negras.

Outra questão importante é sobre a auto sexualização do corpo feminino negro. Apesar de o Brasil ser um país super miscigenado, ainda prevalece o estereótipo de raça, o que acaba por determinar que a mulher negra tem sempre partes do corpo grandes e avantajadas, e por esse motivo são mais atraentes e desejados. Entretanto o complicado é que vem acompanhado de uma ideia “sem noção” de que ela está disponível. O corpo da mulher negra é um objeto no imaginário social brasileiro, que pensa a mulher, mas em especial a mulher negra de forma hierarquizada.  

O racismo surge exatamente com o propósito de convencer a sociedade de que as pessoas brancas, especialmente homens brancos, são os atores sociais e, portanto, a quem se deve dar as melhores chances na vida.

É como dizia a saudosa Luiza Bairros, socióloga e ex-ministra da Secretaria de Política de Promoção da Igualdade Racial do Governo Federal.

O racismo e o sexismo influenciaram as relações que determinaram a sociedade brasileira no seu momento fundador. Isso está no DNA de nossa sociedade, é estruturante. E hoje, mesmo considerando tudo o que já mudou em relação ao que consideramos violência, não há como discutir violência contra as mulheres sem discutir racismo e sexismo no Brasil- Luiza Bairros

O racismo não escolhe a classe social, ele atinge e afeta a vida das mulheres negras de forma igual. Precisamos superar o racismo para vivermos numa sociedade onde não seja necessário lutar pela opressão de raça, de gênero e classe.

 

Edição: Pedro Carrano