Rio de Janeiro

VIOLÊNCIA

Ação policial em Manguinhos (RJ) deixa seis mortos

Polícia Civil alega que tiroteio começou após Esquadrão Antibomba ser atacado; moradores denunciam violações

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Em função da violência, a estação de trem de Manguinhos precisou ser fechada - Foto: Reprodução TV Globo

*Atualizada às 18h22

Um tiroteio em Manguinhos, na zona norte do Rio de Janeiro, deixou seis pessoas mortas na manhã desta terça-feira (12). A ação ocorreu na Avenida Leopoldo Bulhões. De acordo com a Polícia Civil, agentes do Esquadrão Antibomba foram alvo de ataques ao passarem pela Avenida Dom Hélder Câmara enquanto estavam a caminho da Cidade da Polícia. Houve reação.

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Segundo a polícia, foi preciso acionar reforço e homens da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) foram ao local, o que resultou em intenso tiroteio e na morte de seis suspeitos.

Em função da violência, a estação de trem de Manguinhos precisou ser fechada. Às 10h41, a concessionária Supervia emitiu um comunicado nas redes sociais informando sobre a interrupção do serviço, que foi normalizado às 12h01. 

Ao Brasil de Fato, a Secretaria de Estado de Polícia Militar informou que equipes do 22º BPM (Bonsucesso) e das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) da região reforçaram o policiamento nas imediações da comunidade de Manguinhos e nas principais vias da região, como as Avenidas Leopoldo Bulhões e dos Democráticos.

De acordo com a assessoria, policiais estão retirando obstáculos do perímetro urbano e garantindo a circulação do trânsito.

Até quando?

À reportagem, Fransérgio Goulart, membro do Fórum Popular de Segurança Pública do Rio de Janeiro e coordenador da Iniciativa Direito a Memória e Justiça Racial, relatou que moradores de Manguinhos denunciam violações de direitos na comunidade durante a ação policial que ocorreu nesta terça-feira.  

"O Fórum vem recebendo informações de moradores de Manguinhos que tiveram casas invadidas por policiais sem mandados, houve o uso de 'troia' [tática ilegal em que agentes de segurança se escondem em imóveis no interior da favela para promover uma emboscada para o suspeito] e o helicóptero foi usado como plataforma de tiro", explica Goulart, que questiona também o Ministério Público do estado.

“Onde está o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, que não cumpre o seu papel constitucional de controle das polícias? O argumento ínfimo para passar por cima de uma resolução do STF [Supremo Tribunal Federal] de suspensão das operações policiais, exceto em caso de excepcionalidade, estamos cansados de ouvir porque a polícia foi atacada em determinado local", protestou.

Fransérgio afirma que o MP também tem parte na violência policial do estado. "São argumentos históricos que as polícias vêm usando e gostaríamos de saber onde está o MP-RJ em toda essa questão porque o órgão também é responsável por essa produção de mortes e omissão no controle das policias". 

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O Fórum Popular de Segurança Pública do Rio de Janeiro sugere ao Ministério Público que garanta o protocolo de Minnesota [conjunto de diretrizes internacionais para a investigação de mortes suspeitas] para os óbitos ocorridos em Manguinhos. 

A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) informou à reportagem que está acompanhando o caso desde que recebeu a primeira denúncia, pela manhã. Segundo o órgão, parte da equipe está no território, prestando atendimento às famílias, e outra parte seguiu para o Hospital Salgado Filho, para onde também teriam sido encaminhados corpos.

"Estamos em contato também com as instituições responsáveis pela operação. São seis mortos até aqui. Se somarmos às dezenas de corpos acumulados nos últimos três anos, de Wilson Witzel a Cláudio Castro, quando se instaurou a política de acertar na cabecinha, não é exagero falarmos que essa é uma política de morte que mira nas populações pretas e pobres. Cabe a nós prestar atendimento e dar suporte às vítimas, mas é importante que a sociedade também se questione sobre os limites que precisamos impor a essa matança", afirma a deputada Dani Monteiro (Psol), presidente da CDDHC.

Posicionamento

O Brasil de Fato procurou a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) para comentar o caso.

Por meio de nota, o MP-RJ disse que, através da Coordenadoria-Geral de Segurança Pública (COGESP/MPRJ), "a ação policial, de acordo com as informações prestadas pela Polícia Civil, foi decorrente de ataque de criminosos a equipe de policiais que passava nas proximidades da comunidade de Manguinhos".

Segundo o órgão, "nessas circunstâncias, todos os fatos serão posteriormente investigados pelo promotor natural de forma independente e isenta, incluindo o desfazimento de locais onde tenham ocorrido eventuais crimes".

A Polícia Civil informou que "durante a ação, os agentes da Core também foram atacados. Seis criminosos morreram em confronto; dois se entregaram e foram presos em flagrante. Na ocasião, houve farta apreensão de material da facção de tráfico de drogas que atua na localidade".

Segundo a assessoria, "entre os itens apreendidos estão: seis pistolas, granada, diversos carregadores, munições, rádios comunicadores, roupas camufladas e grande quantidade de drogas".

O órgão relatou que a investigação está a cargo da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC).
 

Edição: Eduardo Miranda