Bahia

LUTA POR DIREITOS

Acampamento dos Povos Indígenas da Bahia reivindica demandas antigas das comunidades

Durante cinco dias, encontro reuniu cerca de 1600 representantes de 26 povos indígenas do estado em Salvador

Brasil de Fato | Salvador (BA) |
O evento reuniu cerca de 1600 pessoas, representantes dos 26 povos indígenas do estado, na área externa da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA). - Fabiana Kiriri e Grazy Kaimbé

Plenárias, debates, músicas e cantos marcaram a quarta edição do Acampamento dos Povos Indígenas da Bahia, que começou na segunda-feira (25) e se encerra nesta sexta-feira (29). O evento reuniu cerca de 1600 pessoas, representantes dos 26 povos indígenas do estado, na área externa da Assembleia Legislativa, no Centro Administrativo da Bahia, em Salvador. O toré da abertura foi realizado pelos povos Kiriri, Pataxó, Pankararé, Kaimbé, Tumbalalá e Pataxó Hã Hã Hãe. Também aconteceram debates, atividades culturais como o toré, plenárias, o encontro estadual de mulheres indígenas e apresentação de levantamento sobre educação indígena.

Organizado pelo Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba), o Acampamento teve o objetivo de reivindicar demandas antigas das comunidades, de acordo com Rutian Pataxó, que faz parte da Secretaria Geral do Mupoiba. "Muitas questões não foram resolvidas nesses anos. O diálogo entre o Estado e as comunidades dos povos indígenas só ficou na conversa, não teve resolutividade. Não teve encaminhamentos concretos das demandas, não só na questão da educação, como construção de escolas, transporte escolar, mas também nos projetos de desenvolvimento coletivo, a exemplo de construção de cisternas e melhorias das estradas", explica Rutian.


"Estamos cansados de sermos violentados há mais de 500 anos", diz Rutian Pataxó. / Fabiana Kiriri e Grazy Kaimbé

Contudo, na terça-feira (16), segundo dia de acampamento, o que era para ser um momento de reivindicação de direitos e diálogo, se transformou em ataque violento por parte da polícia. Na ocasião, diversas comunidades marcharam em direção à Governadoria do Estado da Bahia para levar suas demandas relacionadas aos territórios, à educação, à saúde e às políticas públicas para os povos originários. Ao tentarem ingressar no prédio público, os cerca de 300 indígenas, entre eles mulheres, crianças e anciãos, foram impedidos e agredidos pela força policial que disparou balas de borracha e lançou bombas de gás e spray de pimenta.

Diversas organizações da sociedade civil, prestaram solidariedade aos povos indígenas e repudiaram a violência do estado. Sobre o fato, Rutian explica. "Estamos cansados de sermos violentados há mais de 500 anos. E, mesmo essa construção dos últimos anos do Governo do Estado da Bahia, a gente entendeu que não estávamos sendo prioridades para o Estado nem nas demandas mínimas. A polícia tem uma força muito maior do que os movimento sociais. A função dela é reprimir os movimentos sociais, mas entendemos que a forma de repressão foi equivocada. Nós temos grades em volta da Governadoria, em um governo que se diz governo do povo", desabafa.

Ao final do encontro, os povos indígenas esperam que as demandas sejam, de fato, atendidas e que o Estado mantenha diálogo com as comunidades. "Esperamos que se coloque prioridade também nas demandas já reprimidas desde 2017, demandas básicas que só precisam da vontade política, já que não é uma questão orçamentária. A gente espera que o governo do estado possa atender as demandas e caminhar no diálogo com os povos indígenas", conclui.

Edição: Jamile Araújo