Rio Grande do Sul

OPINIÃO

Artigo | Ruas e redes: Anitta está certa na análise, mas e agora?

As redes sociais não são apenas ferramentas de comunicação, são também relacionamento; luta deve ocorrer também nas ruas

Porto Alegre |
Anitta fez uma análise da estratégia de Bolsonaro no Twitter - Reprodução Twitter

Desde que as redes sociais passaram a ser uma realidade cotidiana na vida das pessoas, foram surgindo diversos especialistas nesse assunto. Apesar do debate que a rede proporciona, aprofundar esse tema ainda é um desafio, porque não se trata somente de uma questão de comunicação.

O que repercutiu muito essa semana foi uma análise da Anitta sobre a estratégia de redes do presidente do país. Em resumo, a cantora apontou que ficar repetindo o nome dele ajuda a dar mais visibilidade a ele. Ela disse que o momento é de trocar o discurso para algo como "Muda Brasil" e não usar mais o "Fora tralalá".

Anitta é uma mulher de negócios. Está num local privilegiado pelo mercado e trabalha com a indústria cultural. Então, ela entende sobre o que está falando. E vou dizer que concordo com ela. Acredito mesmo que o momento seja de mostrar quais são nossas propostas e quais são nossas soluções.

O espaço nas redes sociais precisa ser visto como relacionamento e não só como comunicação. As redes sociais não são apenas ferramentas de comunicação. Repeti para reafirmar. No nosso caso, em relação a tudo que está acontecendo, nós já tivemos a fase do diagnóstico e de denúncia. Iniciamos essa relação com mais intensidade a partir do processo da pandemia.

Agora precisamos entrar no mérito de apontar saídas concretas, reais, que não reforcem quem é o responsável pelo nossos problemas, mas que apontem o que e como podemos resolve-los. Dizer, verbalizar, quais são as nossas propostas de saída para essa realidade toda que vivemos.

Quando pensamos em redes sociais como relacionamento, temos que entender que essa relação é híbrida. Híbrido, essa palavra que ficou tão na moda nesses tempos, precisa estar incluído cada vez mais ao pensarmos uma estratégia política de comunicação. Não basta estarmos super bombados nas redes, precisamos estar bombados nas ruas com uma mobilização capaz de combinar esses dois espectros. Isso não significa manifestações com milhões. Significa presença física real na vida das pessoas com espaços de encontro.

Teve um dia que uma mensagem política, de esquerda, circulou muito na rede. Ao analisar a memetização da bandeira antifascista, percebi que um elemento foi central para esse acontecimento: as manifestações de rua. Quando a bandeira antifascista virou meme e ganhou diversas versões, estavam acontecendo também as mobilizações contra o fascismo. Precisamos aprofundar essa análise, mas interessa dizer aqui que a combinação entre rua e redes conseguiu destacar essa mensagem.

Então, sim, a Anitta tem razão. Mas a nossa tarefa como movimentos sociais não acontece somente através das redes sociais. Podemos e devemos alterar a estratégia, porém, para termos força política, é preciso que a nossa mobilização seja também nas ruas. Se formos observar, percebemos que a própria estratégia dos artistas, do pessoal do marketing digital combina redes e encontros presenciais, como eventos e shows.

É isso. Escrevi aqui um pouco do que estou estudando para que possamos coletivamente avançar nesse desafio, que é desvendar as redes sociais e utilizar cada vez mais esse espaço a nosso favor. Nesse momento, temos a condição de apontar quais são os caminhos, temos proposta e podemos imprimir uma mobilização em torno do país que queremos nas ruas, nas redes e nas urnas.

* Carolina Lima é jornalista, pós-graduada em Cultural Digital e Redes Sociais e militante do Movimento Brasil Popular no RS.

* Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Marcelo Ferreira