Rio de Janeiro

JUVENTUDE

Jovens brasileiros estão mais tristes, preocupados e pobres, aponta pesquisa da FGV

Piora é mais alarmante entre pessoas de 15 a 29 anos que não tinham dinheiro para comprar comida em 2020

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Insatisfação de jovens brasileiros com a educação em 2020 é de 41%, menor nível da série - Foto: Rodolfo Santana

Um extenso levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV) publicado em junho mostra piora de índices nas expectativas da juventude brasileira sobre o presente e o futuro. O estudo "Jovens: Projeções Populacionais, Percepções e Políticas Públicas", do Centro de Políticas Públicas da FGV Social, alertou para uma pior avaliação sobre aspirações, sentimentos e oportunidades.

Em uma autoavaliação sobre felicidade, o Brasil teve um dos piores índices em 2020. Em uma escala de zero a 10, o biênio 2013/2014 registrava índice médio de felicidade de 7,2 pontos. Em 2020, a taxa caiu para 6,4, número mais baixo da série brasileira de satisfação com a vida. A queda foi a terceira maior entre 132 países.

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A piora também é alarmante quando a pesquisa aborda a falta de dinheiro de jovens para comprar a comida necessária. Em 2020, 28% dos jovens brasileiros tiveram problema financeiro para arcar com os gastos de alimentação. Entre 2011 e 2014, essa taxa era de 16,8%, e de 25,5% entre 2015 e 2018.

Preocupação

Os jovens brasileiros preocupados chegaram a 44,0% em 2015-2018, contra 35,5% no mundo. Em 2019, mesmo antes da pandemia, a proporção de jovens preocupados sobe para 50% e depois para 59% em 2020, chegando a novos recordes, uma hiper preocupação juvenil, segundo a FGV.

Outro percentual em alta no Brasil é o de jovens que se sentiram estressados no dia anterior: 28,5% em 2005-2010, 32,1% em 2011-2014 e 37,9% em 2015-2018. Nesse caso, porém, a tendência de alta é global, embora menos intensa e em níveis médios um pouco mais baixos: 25,0% em 2005-2010, 29,8% em 2011-2014 e 32,8% em 2015-2018.

A queixa de estresse parece ser um mal crescente em todo o globo, apenas mais forte no Brasil. 2019 e 2020 evidenciam continuidade da piora destes indicadores de stress dos jovens brasileiros para 47% e 56%, respectivamente.

Educação

No quesito educação, a FGV observou que a insatisfação relativa com o sistema educacional sempre esteve alta no país, o que evidencia a percepção do jovem brasileiro sobre a baixa qualidade da oferta da educação. A satisfação, que havia aumentado de 47% em 2013/14 para 56% em 2017/18, nível mais alto da série, sofre queda aguda durante a pandemia, para 41%, menor nível da série em 2020.

Trabalho

Ao longo dos três períodos (2005-2010, 2011-2014 e 2015-1018), os jovens do mundo perceberam uma leve melhora nas condições econômicas de seus respectivos países. Já os brasileiros viram uma guinada brusca na economia do país para pior. A percepção de uma condição econômica pobre no Brasil diminuía de 16,6% em 2005-2010 para 14,2% em 2011-2015, mas saltou para 51,9% em 2015-2018 (contra 26,7% no mundo).

Governo

Uma questão que não era levantada pelo Gallup World Poll no período inicial, mas que teve uma mudança radical no Brasil refere-se à aprovação dos jovens à maneira como o (a) líder de seu país governa. No período 2011-2014, a aprovação no Brasil era de 60,6%, contra 57,5% no mundo. Em 2015-2018, caiu para 12,1% no Brasil, contra 57,4% no mundo. 

Meio ambiente

Um tema que costuma preocupar mais os jovens do que as gerações mais velhas em todo o mundo é o meio ambiente, que incluem desafios, problemas e soluções locais. Segundo a FGV, os jovens do mundo estão cada vez mais satisfeitos com os esforços empreendidos
por seus próprios países, mas os brasileiros, não. Se a satisfação tornou-se majoritária (55,9%) no mundo em 2015-2018, enquanto no Brasil era de 33,1%, em 2020 esse índice caiu para 19% entre a juventude brasileira.

Sob coordenação do professor Marcelo Neri, a FGV trabalhou com dados do projeto "Atlas das Juventudes", do Gallup World Poll. O instituto realiza a pesquisa com questionários anuais em 130 países aplicando entrevistas para jovens entre 15 e 29 anos.

Edição: Eduardo Miranda