Minas Gerais

LUTA

“Poderia ser outra realidade, se governo estadual fosse interessado com povo mineiro"

Presidente da CUT Minas, Jairo Nogueira analisa realidade da classe trabalhadora e convoca para carreata de 1º de maio

Belo Horizonte | Brasil de Fato MG |

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"Zema tem o seu olhar voltado para São Paulo, na verdade. E ele tem transferido recursos de Minas Gerais para lá", analisa Jairo - Foto: Mídia NINJA

Sábado, primeiro de maio, é Dia Internacional dos Trabalhadores. No Brasil inteiro, movimentos populares e sindicais organizam ações para denunciar o governo Bolsonaro na condução da pandemia, além dos cortes de direitos que deixam a população cada vez mais pobre. Em Belo Horizonte, haverá uma carreata, seguindo os protocolos de prevenção contra o coronavírus. A concentração será às 9h, no estacionamento do Mineirão.

Sobre os temas que cercam a luta dos trabalhadores deste ano, o Brasil de Fato MG conversou com Jairo Nogueira, presidente da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT Minas). Nesta entrevista, ele avalia os governos federal e estadual, e defende vacina para todos.

:: A entrevista de Jairo Nogueira foi ao ar no Programa de rádio Brasil de Fato MG. Ouça aqui ::

Brasil de Fato MG: O mote das ações do primeiro de maio deste ano é democracia, emprego, saúde e solidariedade. Qual é o cenário dos trabalhadores brasileiros?

Jairo Nogueira: O tema deste ano prega bem o que está acontecendo com a classe trabalhadora no país. Nós, trabalhadores e trabalhadoras, temos sofrido muito nesta pandemia, porque é uma crise sanitária muito grave que o governo federal não está levando a sério. E o governo Zema, parece que até hoje também não está levando a sério.

O número de mortes continua altíssimo no Brasil e a vacinação anda a passos muito lentos. Por isso, neste mês de maio lutamos por “vacina para todos” e “vacina já”, para que a gente consiga que a vacinação se acelere, que os municípios e os estados consigam fazer a vacinação e que a gente consiga imunizar, logo, toda a população brasileira.

Uma grande preocupação nossa, também, são os trabalhadores e trabalhadoras que estão na linha de frente. São várias categorias, para além da saúde, que continuam trabalhando. Tem havido um nível de contaminação muito alto entre essas profissões. A gente viu, nessa semana, uma denúncia do sindicato dos Correios sobre a contaminação nas agências, teve também um surto de contaminação na Regap [Refinaria Gabriel Passos] da Petrobras.

O governador não estava preparado para assumir o Estado, não tinha equipe preparada e não tem ainda

Funcionários da Cemig e da Copasa também têm denunciado isso, sem falar dos trabalhadores da coleta de lixo, motoristas de ônibus, caixas de supermercados.

Além disso, estamos vivendo no Brasil um nível de desemprego muito alto, o que não é só culpa da pandemia, porque já vinha acontecendo desde 2016. São Mais de 14 milhões de pessoas desempregadas. Quando olhamos o número de pessoas que pararam de procurar emprego, isso bate na casa de 30 milhões de pessoas desalentadas. É assustador, principalmente para nossa juventude, que não encontra possibilidades de emprego, aí tem que ir para o subtrabalho, como os aplicativos.

E nos preocupa também a questão da fome no Brasil. Temos feito, nessa semana que antecede o primeiro de maio, várias campanhas de entrega de cestas básicas, de marmitex, para pessoas em situação de rua e pessoas das periferias. Muita gente não está tendo o que comer.

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Chegamos ao número assustador de 130 milhões de pessoas no Brasil que não fazem as suas refeições diárias. Isso é basicamente metade da nossa população, um número que a gente tinha conseguido acabar, a gente tinha retirado o Brasil do mapa da fome. Tivemos nessa semana, uma atividade em frente à Caixa Econômica Federal, em várias cidades de Minas, e distribuímos lanche para as pessoas que estavam na fila há horas, esperando para poder ter acesso ao auxílio emergencial.

BdF MG: Sobre a condução da pandemia em Minas Gerais, qual a sua avaliação sobre Romeu Zema?

Infelizmente, foi um equívoco o povo mineiro ter votado em Romeu Zema. O governador não estava preparado para assumir o Estado, não tinha equipe preparada para isso e não tem ainda. Vemos que as empresas estatais, por exemplo, estão vivendo casos de corrupção e de falta de gestão.

Vimos Zema se apoiando muito no que o governo Bolsonaro dizia sobre o vírus. Chegou a falar o absurdo de que o vírus precisava viajar. Eles estavam naquela ideia de “imunidade de rebanho” e que a pandemia se resolveria assim, mesmo com o mundo inteiro falando outra coisa.

A FUNED, com investimento, poderia produzir vacina, como o Butantã está produzindo

E o auxílio emergencial proposto pelo governador era uma vergonha, de R$ 45. Hoje um botijão de gás custa R$ 95 e a cesta básica custa mais de R$ 600. Se a gente tivesse um governo realmente interessado em proteger a população mineira, a gente já teria dado apoio à Fundação Ezequiel Dias (FUNED). A FUNED, com investimento, poderia produzir vacina, como o Butantã está produzindo.

A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) está realizando pesquisas sobre a vacina e está faltando recurso para isso. Nem o governo estadual nem o governo federal se interessam em prover esses recursos.

A gente poderia estar vivendo outra realidade, caso tivéssemos um governo que fosse, realmente, interessado com o povo mineiro, que ajudasse a população mais pobre. Zema tem o seu olhar voltado para São Paulo, na verdade. E ele tem transferido recursos de Minas Gerais para lá. Só para ter uma ideia, a central de atendimento aos clientes da Cemig, que atende todo o estado de Minas Gerais, está sendo transferida para São Paulo. Isso vai gerar 3 mil desempregos aqui no estado.

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A Cemig teve um lucro no ano passado de mais de R$ 3 bilhões e o governo estadual é o sócio majoritário. O governo poderia alterar através de assembleias essa questão do lucro da empresa e transferir esse recurso para saúde, nesta situação de emergência sanitária. O que eles fizeram foi pegar todo o lucro da Cemig e da Copasa, transformar em dividendos e repassar para os acionistas. É o dinheiro do povo mineiro indo para fora do estado, indo para fora do Brasil.

BdF MG: E sobre as ações previstas para o mês de maio. Qual será a programação?

Nós já começamos, desde o sábado passado, a campanha de doação de cestas básicas. A CUT Minas já lançou uma conta, que a gente está divulgando nas redes sociais, em que as pessoas podem nos ajudar doando qualquer recurso. Também estamos com outra campanha, desde o ano passado, para a alimentação dos moradores em situação de rua, das pessoas das periferias. A ideia é que a Escola Sindical, no Barreiro, vire um ponto de distribuição de marmitex para a Grande BH.

E no sábado, dia primeiro, em BH, está programada uma grande carreata. A concentração será a partir das 9h, no estádio do Mineirão.

Edição: Larissa Costa