Bahia

DEFESA DE DIREITOS

Greve dos petroleiros segue pelo quarto dia na Bahia

Ação acontece também no estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Amazonas, Pernambuco e São Paulo

Brasil de Fato | Salvador (BA) |
Categoria denuncia truculência, ameaças para os trabalhadores da Petrobras e terceirizados e o assédio moral por parte da estatal. - Sindipetro BA

Os petroleiros da Bahia segue no quarto dia de greve - retomada na sexta-feira (5) - que havia sido suspensa em fevereiro, após a sinalização da Petrobras em reabrir a negociação. Trabalhadores próprios e terceirizados da Refinaria Landulpho (RLAM) - cerca de 900 concursados e 1.700 terceirizados - e de outras unidades da estatal no estado aderiram ao movimento.

A diretoria do Sindicato dos Petroleiros da Bahia - Sindipetro Bahia informou que, após quatro rodadas de negociação, e sem avanço, a Petrobrás rompeu o trato com a entidade, encerrando as negociações. A greve não acontece só na Bahia, foi deflagrada regionalmente pelos Sindipetros nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Amazonas, Pernambuco e São Paulo (Mauá e Campinas). Filiados à Federação Única dos Petroleiros (FUP), esses sindicatos também estavam em negociação suas pautas reivindicatórias regionais diretamente com a Petrobrás. 

Reivindicações

Entre as reivindicações da categoria, estão a implementação de uma política efetiva de combate ao assédio moral nas unidades da Petrobras; incorporação dos trabalhadores concursados da Petrobras Biocombustíveis (PBIO) à Petrobras, caso a Usina de Biocombustíveis de Candeias seja realmente vendida; fim das dobras de turno e das prorrogações de jornada; revisão da política do efetivo mínimo do O&M (Organização e Método) nos diversos setores da estatal, em especial na RLAM.

Os petroleiros reivindicam também que a Petrobrás envie ao Sindipetro Bahia, a cópia do contrato de venda da Refinaria Landulpho Alves para o fundo Árabe Mubadala ou apresente e coloque em discussão o cronograma de transição da operação da Unidade pela Petrobrás, bem como os prazos de transferências de trabalhadores, seus critérios e prioridades, além das regras que utilizará para indenizar as transferências desses trabalhadores. O objetivo é garantir a permanência dos postos de trabalho dos trabalhadores próprios e terceirizados e também de que não haverá redução salarial, retirada de direitos, de benefícios e vantagens.

O adiamento da parada de manutenção da RLAM, negado pelo RH Corporativo da Petrobras, é outro ponto de pauta dos petroleiros, devido ao surto de infecção pela Covid-19 na refinaria. A parada de manutenção está marcada para acontecer no próximo dia 15. De acordo com o Sindicato, são 75 trabalhadores próprios infectados pelo vírus da Covid-19 na refinaria. Oito estão hospitalizados e três em uma Unidade de Terapia Intensiva, intubados.

Desafios da greve da categoria

Jairo Batista, coordenador do Sindipetro Bahia, acredita que será “uma greve forte, com boa adesão da categoria. Uma greve legítima, legal e necessária, diante das tentativas recorrentes da Petrobras de retirada de direitos dos trabalhadores, das atitudes antissindicais e da utilização do assédio moral e da pressão como ferramentas de gestão nas unidades da estatal”.

Para o diretor de Comunicação do Sindipetro Bahia, Radiovaldo Costa, existem desafios de diversas ordens para a realização da greve.  “Infelizmente, a truculência, as ameaças para os trabalhadores da Petrobras e terceirizados e o assédio moral são muito fortes. E isso acaba sendo um obstáculo para a construção da greve”, pontua o dirigente.

Além disso, o petroleiro aponta o uso do aparato policial e judiciário como obstáculos que poderão ser encontrados pelo movimento grevista. “A Petrobras tem utilizado muito, nos últimos movimentos que realizamos, a justiça do trabalho, como forma de obter algum tipo de liminar que impeça a categoria petroleira, os trabalhadores e a própria entidade de realizar esse direito constitucional que é o direito de greve”, afirma Costa.

Radiovaldo ressalta ainda, que os petroleiros estão lidando com um componente novo que não pode deixar de ser considerado, que é a questão da pandemia. “Claro que a entidade sindical se preocupa com a pandemia, já que toda greve você acaba, em algum nível, concentrando pessoas. A gente tem tomado os cuidados necessários, inclusive evitar ao máximo esse tipo de aglomeração de pessoas. Mas ficamos, como diz o ditado, ‘entre a cruz e a espada’, pois temos a pandemia, e também uma necessidade urgente, imediata de lutar. Então a pandemia acaba sendo um componente ruim nesse momento, mas temos tomado os cuidados para evitar qualquer tipo de contaminação entre os presentes, seja de diretores do sindicato ou também dos próprios trabalhadores da base”, pontua. 

O diálogo com a categoria e a sociedade também é um ponto destacado por Radiovaldo. “Nós fizemos um trabalho prévio de diálogo com os trabalhadores da Petrobras e terceirizados. Temos feito uma comunicação digital intensa, com áudios, vídeos e notas em nosso site. Mostrando para a categoria a necessidade de realizar o movimento, a deixando informada diariamente de tudo o que acontece, sobre o processo de negociação com a Petrobrás, do não atendimento da Petrobrás a nenhuma de nossas reivindicações e desse cenário difícil de privatização da Petrobrás, o que naturalmente coloca em risco, além dos interesses da sociedade como um todo, mas também os interesses dos trabalhadores petroleiros próprios e terceirizados”. Ele completa: “Entendendo que a sociedade é parte importante disso, vamos no decorrer desse movimento, nesse diálogo intenso sobre o que ocorre, sobre os desdobramentos, não só para a categoria, mas para a sociedade baiana como um todo”, finaliza.
 

Edição: Elen Carvalho