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Coluna

É preciso muita luta para quebrar os paradigmas do machismo

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Precisamos levar  o debate da paridade de gênero todo dia  dentro dos partidos, nas escolas, nas rodas de conversa, nos movimentos sociais e de base, nas associações comunitárias e demais setores da sociedade civil. - Ravena Rosa/Agência Brasil
Democracia só vai ser efetiva com mulheres inseridas de forma igualitária em todos os espaços

A democracia no Brasil só vai ser efetivada quando as mulheres - maioria no país - estiverem inseridas de forma igualitária em todos os espaços: de poder, de decisão, nas empresas, em cargos de chefia, nas universidades e na ciência. E, principalmente, as mulheres negras – que compõem a maior parte dessa parcela. 
Em apoio à Agenda 2030, a ONU Mulheres lançou a iniciativa global “Por um planeta 50-50 em 2030: um passo decisivo pela igualdade de gênero”, com compromissos concretos assumidos por mais de 90 países. O Brasil foi um deles, por entender, a partir do ponto de vista dos movimentos sociais e de mulheres, que, para alcançar este objetivo, é preciso que todos - mulheres, homens, sociedade civil, governos, empresas, universidades e meios de comunicação – trabalhem de maneira determinada, conectada e sistemática.
No entanto, ainda estamos longe desta realidade. A desigualdade de gênero, infelizmente, ainda existe, embora alguns avanços tenham sido registrados.  Sabemos que os obstáculos continuam os mesmos: o  patriarcado e o machismo que insistem em nos limitar ao espaço da casa, da dona do lar, e nos colocam como inferiores aos homens, o que, também infelizmente, encontra eco em diversos templos religiosos. 
Apesar dessa triste realidade brasileira, ainda são estas mulheres que acabam sendo  responsáveis pela chefia financeira dos lares brasileiros. Levantamento da Consultoria IDados, realizado com base nos números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que este montante chega a 34,4 milhões, isso significa que quase  metade das casas brasileiras são chefiadas por mulheres (45%). 
Ou seja, sofremos o machismo, a misoginia, o feminicídio, mas ainda assim estamos na linha de frente sustentando nossas famílias mesmo com salários menores: recebemos  salários 20% menores, em média, em relação aos dos homens, como aponta o Mapa da Política de 2019, elaborado pela Procuradoria da Mulher no Senado. Ocupamos apenas 38% dos cargos de chefia no Brasil, ou seja, continuam minoria no topo da hierarquia do setor público e privado, conforme dados do IBGE. 
Todo esse panorama também tem reflexo, obviamente, nos espaços políticos. As mulheres, embora representem 52% do eleitorado brasileiro, ainda são minoria nas cadeiras das Prefeituras, Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas, Senado e Câmara dos Deputados.  
Os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que dos mais de 63 mil prefeitos e vereadores eleitos em 2016, apenas 13% (8.427) foram mulheres. Já das 57 mil cadeiras de câmaras municipais somente 2,8 mil foram ocupadas por parlamentares mulheres negras e pardas. 
Para a Câmara dos Deputados, em 2018, foram eleitas 77 parlamentares do total de 513. Já nas assembleias legislativas, foram eleitas 161 representantes dos 1.059 que assumiram o cargo eletivo. No Senado, na última eleição, somente sete mulheres chegaram às cadeiras. Na Câmara de Salvador, foram 8 mulheres eleitas de 43 vereadores. 

Esse cenário deixa nítido o dramático quadro da desigualdade de gênero nos debates e negociações nestes espaços políticos fundamentais para o futuro da população. 

Precisamos levar  o debate da paridade de gênero todo dia  dentro dos partidos, nas escolas, nas rodas de conversa, nos movimentos sociais e de base, nas associações comunitárias e demais setores da sociedade civil. 
Juntas, e empoderadas, venceremos os obstáculos sexistas que nos retiram o direito de sermos formuladoras, negociadoras e executoras de decisões, de cargos de chefia e de políticas públicas. É preciso muita luta para quebrarmos os paradigmas do machismo.
Queremos ver mais mulheres como Jaqueline Góes de Jesus, a cientista baiana que coordenou a equipe que sequenciou o genoma do novo coronavírus, como a escritora Conceição Evaristo, como a promotora baiana Livia Vaz, a socióloga Vilma Reis,  a filósofa Djamila Ribeiro, a antropóloga Carla Akotirene, a jornalista Maíra Azevedo, as cantoras Larissa Luz, Luedji Luna e Xênia França, sendo voz ativa na nossa sociedade. Elas existem e são muitas, mas queremos mais, pois representatividade importa.
Apesar da desigualdade ainda existir, percorremos um caminho de conquistas recentes: estudar, trabalhar, votar, candidatar-se a cargos políticos e ocupar postos de liderança, de visibilidade nas artes, música e academia. Mas a marca do machismo e do patriarcado ainda está muito presente na sociedade e é um freio para o desenvolvimento sustentável do país. Não podemos esperar tanto.

Edição: Elen Carvalho