Bahia

LITERATURA

Precisamos falar sobre autoras negras

Confira indicações de leitura feitas por mulheres, que contam de que modo foram marcadas pelas obras em suas trajetórias

Brasil de Fato | Salvador (BA) |
“Tratado das Veias” e “Mulheres, Raça e Classe” são as indicações da socióloga Ângela Guimarães. - Reprodução

O projeto “Lendo mulheres negras” criado em 2016, em Salvador, se dedica a apreciar e divulgar o trabalho de autoras negras, do Brasil e do mundo. A iniciativa, que promove encontros para ler e falar sobre as escritoras, suas vidas e sua produção, foi movida por um questionamento: “Quantas autoras negras você já leu?”. A indagação provoca refletir sobre o quanto mulheres negras ainda são invisibilizadas na literatura, ao mesmo tempo em que reforça a importância da leitura de seus livros. Ao longo desta semana, o BdF traz indicações de leitura feitas por mulheres, que contam de que modo foram marcadas por estas obras em suas trajetórias. Confira a primeira indicação: 

Ângela Guimarães, socióloga e Presidenta Nacional da Unegro (União de Negros pela Igualdade).
O livro de poesias “Tratado das Veias” da professora e poeta Rita Santana foi responsável pelo meu reencontro com a poesia, gênero que eu sempre gostei mas que estava há um tempo sem contato. Foi uma maravilhosa surpresa me encontrar com uma escrita tão pessoal, visceral, íntegra, que me desafiou a revisitar vários sentimentos e que me penetrou tão densamente. Rita mergulha fundo em si e eu acabo me encontrando neste mergulho. Ela revisita memórias da infância, da relação com a avó, mãe e irmãs, das suas relações afetivas, de seus encontros e desencontros consigo mesma... Pela voz e escrita lancinantes de Rita Santana encontrei a mim mesma e depois disso não desgrudei mais dela.
O segundo trata-se do clássico fundamental para a compreensão da intersecção entre a luta antirracista, o feminismo e a luta de classes, “Mulheres, Raça e Classe” da grande ativista, filósofa, professora, escritora, Angela Davis. Publicado originalmente em 1981 só é traduzido no Brasil em 2016. Um livro que continua absolutamente atual por resgatar a origem das opressões e como elas se estruturaram ao longo da história estadunidense - que em grande parte se assemelha às mulheres negras em toda a diáspora - que se impõem sobre a vida das Mulheres negras e também por funcionar como mola propulsora de reflexões e um chamado à ação. Angela Davis, nossa eterna Pantera Negra, esse grande ícone das lutas feministas e antirracistas é um exemplo vivo de resistência e insubmissão a todas nós!
 

Edição: Elen Carvalho