Paraná

SAÚDE

“Nosso trabalho é não deixar o vírus entrar na aldeia”, diz médica indígena

A médica indígena Miriam Alessandra percorre mais de 100 quilômetros para atender nove aldeias no interior de São Paulo

Curitiba (PR) |
Miriam Alessandra é medica índigena - Foto: Arquivo Pessoal I Diagramação: Vanda Morais

Todos os dias a médica indígena Miriam Alessandra de Moraes Viegas percorre mais de 100 quilômetros com sua equipe para atender nove aldeias no interior de São Paulo. O dia começa cedo na cidade de Miracatu, onde carregam remédios para atender a população indígena. A falta de estrutura nas aldeias não é empecilho para a médica, que improvisa um local para atendimento.

Miriam, que em guarani quer dizer “mulher que cura”, diz que a decisão de enfrentar todas as dificuldades que uma indígena encontra para cursar Medicina foi porque queria fazer a diferença. “Não foi fácil entrar na faculdade. Mas sempre soube que minha profissão é fundamental, pois consigo trabalhar respeitando os limites e costumes do meu povo.”

E, no meio do caminho dos três anos como médica, veio a pandemia. “Por ser um atendimento primário, trabalhamos com prevenção a todas as doenças. Nossa preocupação, neste momento, é não deixar o vírus entrar na aldeia. Pois o isolamento indígena é diferente por ser uma vivência coletiva. Se alguém se contamina, contaminará a aldeia toda.”

Miriam diz que além dos sentimentos de insegurança e medo pessoal por se preocupar com seu povo, sua família e equipe, teme o futuro da população indígena. “Este pode ser mais um fator, entre tantos, para o genocídio da população indígena.” Por isso, ela tem insistido para que não saiam das aldeias e façam todos os protocolos de prevenção. “E quando tiverem sintomas, que nos avisem imediatamente”, diz, com esperança de que tudo passe logo.

Subnotificação

Segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) os números de indígenas infectados são superiores aos notificados pelo governo. Pelo levantamento feito pela associação junto com outras entidades já são 378 mortes entre indígenas e, em 27/6, eram 9.166 infectados.

Edição: Gabriel Carriconde