Bahia

SOLIDARIEDADE

Movimentos e organizações baianas realizam ações voltadas para população vulnerável

Solidariedade e unidade salvam vidas e fortalecem a necessidade de uma nova sociedade

Brasil de Fato | Salvador (BA) |
Entrega de cestas básicas, materiais de higiene e botijões de gás na comunidade dos pescadores de Ilha de Maré, em Salvador - Sindipetro BA

Desde o mês de março, início das medidas de isolamento social provocadas pela pandemia de COVID-19 no Brasil, as ações de solidariedade têm sido de suma importância para a população brasileira. São inúmeros os exemplos individuais ou coletivos, a partir de grupos e movimentos populares, que têm surgido para ajudar quem está em situação de vulnerabilidade social. Na Bahia não tem sido diferente. Os baianos e as baianas demonstram, na prática, que para sobreviver em meio a essa crise, é decisivo ser solidário.
Para Yuri Silva, do Coletivo de Entidades Negras - CEN, as ações de solidariedade são importantes porque se trata de uma situação inesperada. “As pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade, que devem ser assistidas pelo Estado, tem suas necessidades ainda de pé. Então, na perspectiva de termos um governo que controla o Estado somente para beneficiar os mais ricos e os empresários, cabe a nós que construímos a luta social, fazer ações de solidariedade nesse momento. É um momento também de questionamento do modelo de organização do Estado, do modelo capitalista neoliberal. Tem ficado provado por A mais B que esse modelo é fracassado.  Para nós, além de ser o que nós acreditamos, além de ser a nossa vocação militante fazer esse tipo de ação de solidariedade, também apostar na intensificação de questionamento a esse modelo, provar que somente um modelo de estado de bem estar social, um estado socialista, de compartilhamento das riquezas, de compartilhamento das produções é um modelo que pode dar certo”, afirma.
O CEN tem realizado diversas ações voltadas para comunidades em vulnerabilidade, em parceria com coletivos, empresas e pessoas, como por exemplo o coletivo Delas Para Todxs!, formado por mulheres que produzem máscaras de tecido. “Recebemos 15 mil sabonetes de uma empresa para distribuição, arrecadamos 250 cestas básicas, distribuímos máscaras de tecidos nas comunidades do Solar do Unhão, Gamboa, Ladeira da Preguiça, Ilha de Maré e Cidade Baixa. Além disso a gente arrecadou R$ 35 mil por meio de financiamento coletivo que está sendo revertido integralmente em cestas básicas, produtos de higiene pessoal e Equipamentos de Proteção Individual (E.P.I.s). A gente vai conseguir ajudar mais de 700 famílias com o valor arrecadado”, explica Yuri.
Segundo Djacira Araújo, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e da Brigada do Congresso do Povo, a brigada tem atuado com diversas parcerias em Salvador desde 2019, em alguns bairros como Cajazeiras, Ilha de Maré e Plataforma. “Importante destacar a campanha que o Sindipetro Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro BA) está fazendo sobre o preço justo do gás [de cozinha]. Nós estamos nos somando nas comunidades em que eles estão fazendo esse processo de diálogo entre os trabalhadores da Petrobras, em defesa da estatal enquanto uma empresa que deve estar a serviço do povo brasileiro. E, ao mesmo tempo, mostrando que é possível que essas riquezas, e principalmente, o gás chegue à população brasileira a um preço mais acessível. Estivemos fazendo junto com o Sindipetro na entrega de cestas básicas, materiais de higiene e botijões de gás para a comunidade dos pescadores, num momento que há especulação e em alguns lugares o preço do botijão tem atingido R$ 120. Nesse momento, nós fizemos a entrega para a comunidade dos pescadores de Ilha de Maré”, ressalta.
Léia Silva, do Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), explica que o movimento se incorporou na "Campanha Periferia Viva - Solidariedade para combater o Coronavírus", iniciativa dos movimentos do campo popular voltada para ações de solidariedade em todo o Brasil, e está buscando enraizar a campanha no estado da Bahia, com ações de solidariedade relacionadas à aquisição e distribuição de cestas básica em Vitória da Conquista e em Salvador, entre outras ações em outros municípios. “Não estamos sozinhos, em Vitória da Conquista a gente está construindo junto aos assentamentos do MTD e ocupações. Em Feira de Santana, o MTD junto com a Cooperativa de Mulheres do bairro George Américo, está fazendo distribuição de quentinhas para pessoas que estão em situação de rua especialmente”, pontua.
Em Jequié, MTD, MST, Sindipetro, Levante Popular da Juventude, Consulta Popular e mandatos populares  se organizaram em torno das pessoas em situação de vulnerabilidade dos próprios movimentos. “A gente está fazendo essa campanha mais interna, com arrecadação de alimentos perecíveis e não perecíveis, que são as distribuições de orgânicos do MST, além de uma vaquinha de pessoas que estão se solidarizando com um valor específico. Aí nós vamos fazer essa dinâmica durante três meses, como se fosse a renda básica dos movimentos sociais durante três meses”, argumenta Léia.
A militante do MTD diz ainda que o desafio central é fazer com que isso se torne um processo de ampla unidade e solidariedade: “a defesa afirmativa da solidariedade, não da perspectiva que o mercado coloca, mas a solidariedade para a construção de uma lógica socialista. Nossa tarefa central é fortalecer a campanha Periferia Viva, fortalecer nossos movimentos e sindicatos que estão envolvidos, construir força própria e um suporte à população nesse momento tão difícil”, conclui Léia. 
Yuri Silva diz ainda que as ações vêm no sentido de tentar minimizar os impactos desse momento. “Essa é a situação que nosso povo vive: cumprindo isolamento social em condições precárias. Entendendo a necessidade de manter o isolamento para que o coronavírus não se alastre, mas as casas são precárias, as pessoas vivem em situação de risco e as chuvas que caíram em Salvador esses dias colocam as pessoas ainda mais em risco. É muito triste o que a gente tem visto diariamente em nossas comunidades, um processo de precarização que sempre existiu, mas que está intensificado pela impossibilidade das pessoas trabalharem. Reafirmamos que é essencial que as pessoas fiquem em casa, mas é essencial também que o Estado, que o governo, para essas pessoas ficarem em casa, comam, mantenham a higiene necessária, não morram soterradas em áreas de risco”, finaliza. 
 

Como contribuir
-Nas redes sociais do CEN, @cenbrasil (Instagram e Facebook) tem todas as orientações de como as pessoas podem ajudar, seja com valores financeiros ou com entrega de produtos em quatro pontos que nós temos em Salvador. 
-Campanha Periferia Viva: @campanhaPeriferiaViva (Facebook) e @periferiavivacontracorona (Instagram)
 

Edição: Elen Carvalho