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ESPECIAL DIÁLOGOS

Combater COVID-19 passa por ações individuais e coletivas organizadas

Isolamento físico é medida eficaz nesse enfrentamento

Brasil de Fato | Salvador (BA) |
"É um vírus novo, ninguém está imune, por isso toda essa crise epidemiológica”, explica Flavia Silva. - NIAID

O último mês trouxe um grande desafio para a população brasileira: o novo coronavírus, que transformou a vida de toda a população, e fez parar desde aeroportos, escolas, faculdades, igrejas até gravações de novelas e jogos de futebol. Todas as atividades que aglomerem pessoas foram suspensas, e somente atividades essenciais se mantiveram.  

Se instalou em todo o país um clima de insegurança em torno da pandemia de COVID- 19. O que já se sabe é que foi iniciado em outubro de 2019, com o primeiro caso na China, mas não foram tomadas medidas eficazes que impedissem que o vírus se alastrasse por outros continentes, favorecendo a contaminação e levando à morte milhares de pessoas em todo o mundo.

Além de pôr em risco a vida de bilhões de pessoas, a COVID-19 vem se espalhando de forma acelerada por todo mundo, comandando todos os veículos de notícias nacional e internacional e gerando consequências ainda desconhecidas e outras perceptíveis, como a economia mundial, a vulnerabilidade da população. Ainda não se sabe como ou quando tudo isso será solucionado. Contudo, é importante nos mantermos bem informados e tomando as devidas medidas de precaução.

O que é o Sars-CoV-2 e quais são as complicações que pode causar?
Segundo Flavia Silva, médica da família e comunidade, que atua no município de Camaçari (BA), não se conhece ainda o mecanismo total do vírus. “Estamos vivendo um grande ensaio clínico a todo momento. A partir dos casos que vão surgindo, é que vamos desenhando até onde vai o alcance do vírus. O que sabemos é que é uma ação parecida com os outros vírus que causam síndromes gripais com sintomas semelhantes. É um vírus novo, ninguém está imune, por isso toda essa crise epidemiológica”, explica.

Como pode ser transmitido?
A médica explica que a transmissão é feita através de gotículas de pessoas que estão com vírus. “A primeira grande questão são as pessoas assintomáticas que entraram em contato com o vírus, mas a maior parte dos estudos confirma que transmitem. Mesmo sem apresentar sintomas ela é transmissora, sendo enquadradas crianças e mais jovens que não tem doenças crônicas. Por isso o isolamento horizontal é importante", segue a médica.

Flávia diz que é a partir do contato com o vírus que a pessoa apresenta sintomas parecidos com outras gripes. O que diferencia é a febre, dor no corpo e falta de ar, tendo alguns casos com ausência dessas características, mas a maioria apresenta.

Por que idosos, pessoas em tratamento de doenças auto imunes, entre outras, são grupo de risco?
Silva ressalta que estas são pessoas que, em maior grau, têm outras doenças ou fragilidades que faz com que tenham uma tendência maior a desenvolver o quadro grave, que resulta na insuficiência respiratória aguda. “Quando a gente fala que o grupo de risco precisa se cuidar mais é porque, quando a gente vai olhar os pacientes que fizeram quadro grave, a maioria são pessoas idosas com mais de sessenta anos, pessoas hipertensas, diabéticas, com algum tipo de doença pulmonar, transplantadas, em tratamento de câncer, imunosuprimidos [HIV positivo], pacientes em tratamento de doenças auto imunes. Então, de uma forma ou de outra, essas pessoas possuem fragilidades no sistema imunológico”, pontua.

Quais ações mais eficazes para se prevenir? 
De acordo com Flavia, os estudos mostram que as medidas mais eficazes são o isolamento horizontal e o cuidado com a higiene. Ou seja, todo mundo em casa, não somente os grupos de risco. “Sair o mínimo de casa, prestar atenção na higiene, lavar as mãos com água e sabão mais vezes durante o dia; evitar tocar nariz, olhos, boca, esses lugares que produzem secreção; sempre que tossir, espirrar, que sujar a mão e/ou o braço, lavar também com água e sabão; as superfícies da casa que a gente toca mais sempre colocar água sanitária na água e com esse liquido fazer higienização”, explica.

Ela fala ainda sobre a necessidade de manter distancia de um metro das pessoas e não dividir talheres e copos. “Quando for ao banheiro que fizer cocô, jogar água sanitária; quando for recolher lixo, ter um pouco mais de cuidado, proteger as mãos com outro saco para recolher o lixo;  se não tiver como usar álcool em gel, lavar as mãos com água e sabão, xampu, sabonete (eles têm a mesma eficácia do álcool em gel). No menor dos sintomas, procurar uma unidade de saúde, onde fazemos o acompanhamento na unidade e examinamos;  se tiver telefone, melhor ainda, pois a telemedicina está sendo regulamentada nesse momento para fazer o acompanhamento e monitoramento dessas pessoas de 48 horas em 48 horas via telefone; em caso de dúvidas procurar telefone da unidade de saúde, tem disk coronavírus do Ministério da Saúde também. Uma orientação do Ministério da Saúde é o uso das máscaras cirúrgicas pra os profissionais de saúde, e as artesanais, de tecido, TNT, para a população”, conclui.

Por último, a profissional da saúde problematiza que, embora atinja pessoas de todas as classes, as condições para prevenção são diferentes para pessoas com condições econômicas distintas. “E o isolamento vai ter uma série de questões sociais implicadas, as famílias que vivem em condições precárias de habitação. Como eu vou falar de isolamento se eu vou ter sete membros em um, dois ou três cômodos?”, reflete.

COMO ESTAMOS NO ISOLAMENTO SOCIAL?
No isolamento, que transformou totalmente a vida dos brasileiros, não faltaram os memes, lives, mensagens nos aplicativos e ações de solidariedade. É preciso muito ‘jogo de cintura’, inovação e esperança para lidar com essa situação. Conversamos com algumas leitoras para saber como estão lidando com o momento.

“Estou ótima nesta quarentena. Poder estar em casa tem me despertado cada vez mais para análises interiores nunca vistas. Não vejo problema em adaptar minha rotina para o home office, uma vez que já estava familiarizada com esta estratégia de trabalho e desenvolvimento das atividades. Tenho sido mais procurada ultimamente por conta disto, inclusive. As pessoas não entendem como conseguem e aqui fica o meu conselho: o segredo está no planejamento. Minha semana, meu dia, minha rotina, vida inteira é planejada. Anoto tudo que tenho pendente e distribuo no meu dia. O grande desafio tem sido o home school. Pôr crianças à frente de um computador para se concentrar em aulas de 50 minutos e depois desenvolver com elas as atividades propostas não é tarefa fácil, sobretudo porque didática não é minha habilidade e a casa não é o ambiente em que a criança associa a aprendizagem escolar. Temos tido dificuldades e desenvolvendo estratégias que não os faça me ter como vilã, já que racionalmente eu não posso deixar ele parar as atividades, mas não me culpo por pegar leve. Me preocupo em conscientizá-los dos motivos pelos quais precisamos mudar a nossa rotina, do que está acontecendo no mundo, no Brasil especificamente, os efeitos das nossas decisões, implementar hábitos de higiene que perdurem e conscientizá-los sobre moral, cidadania e ética para que não se tornem seguidores ou líderes despreparados como o que vemos ocupando a cadeira da presidência”. 
Nina, 30 anos, mãe e bolsista PIBIC.


“Na minha rotina profissional estou um pouco tranquila, porque as instituições em que trabalho não são referência do Covid-19. Mas, ainda assim, estamos com cuidados redobrados com os EPIs. Porém, em compensação, o psicológico está abalado e com muito medo, porque não temos pacientes contaminados, mas sim colegas de profissão dentro da instituição. Estou amedrontada principalmente porque estamos na linha de frente e nosso familiares se tornam vulneráveis. Eu como profissional de saúde espero que depois que isso tudo passar sejamos mais reconhecidos. Precisamos de um salário digno vide ao risco que nos expomos”.
Mônica Pereira, 41 anos, técnica em enfermagem.


“O tempo é o ativo mais valioso, e por assim entender, decidimos dar vida a nossa empresa, que tem a premissa de oferecer a mulheres a possibilidade de realizar um trabalho  de suas casas. Cuidando de si e de seus filhos, economizando o tempo que se perde no trânsito e desfrutando de uma gestão horizontal onde todas são ouvidas e estimuladas a crescer. E nesse ponto, em tese, o isolamento não nos trás prejuízo, porque a produção e as reuniões podem acontecer virtualmente. Por outro lado, toda essa tensão nos afeta e nos desestabiliza emocionalmente, compromete nosso rendimento e interfere nos prazos. O clima na agência se assemelha ao de uma tarde nublada, o riso tímido tomou o lugar da gargalhada farta, mas alimentamos a esperança de dias melhores. Temos enfrentado a situação com acolhimento e afeto; nos reunimos virtualmente, rimos, compartilhamos memes, verbalizamos as dores, por entender que sentir-se amado, querido e pertencente, ajuda a compensar as limitações no processo criativo. E, nesses momentos, os ideias humanistas se mostram ainda mais pertinentes. ‘Não se valida vida com capital’. Que nossa existência seja cada vez mais humana, que despendamos o tempo fazendo o que nos desperta paixão e sobretudo que estejamos ao lado de quem nos ama”.
Lorraine Sampaio, 24 anos, microempreendedora.

Edição: Elen Carvalho