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Páscoa em casa e no mundo

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Em celebração inédita, Papa Francisco presidiu sozinho a missa do Domingo de Ramos - AFP
Com o risco do contágio e a ordem de ficar em casa, o desafio é descobrir novas formas de celebrar

Nestes dias, as comunidades cristãs celebram a Semana Santa. Em todos os países, a orientação é celebrar em casa e participar dos atos litúrgicos por televisão ou internet. É pena não se poder celebrar o memorial da Páscoa de Jesus, na comunhão concreta dos irmãos e irmãs de fé. No entanto, nossa reflexão tem de ir além das aparências.

Essa pandemia provocada pelo coronavírus revela a fragilidade da sociedade organizada para o lucro. Empresários e governantes discutem se é melhor salvar o mercado e deixar morrer milhares de pessoas, ou se para salvar as pessoas, se assume a crise econômica que virá e será muito grave. No Brasil, milhões de pessoas vivem em habitações precárias. Grande parte da população não tem acesso ao saneamento básico. Por isso, os mais atingidos pela pandemia serão, inevitavelmente, os mais pobres e vulneráveis. Como continuar a corrida armamentista que investe 800 milhões de dólares por ano em armamentos? Mesmo com todos os grandes meios de comunicação ao seu serviço, as grandes empresas e os países ricos terão dificuldade de manter suas guerras contra os pobres. Também nesses países, os cidadãos estão morrendo, vítimas da arma que se desenvolveu a partir da própria forma de organizar a sociedade.

Se, no mundo, o vírus revela que o rei está nu, ou seja, a fragilidade do sistema está exposta, também nas Igrejas, o vírus revela algo que o papa Francisco vem, há anos, denunciando: a doença do clericalismo. Para muita gente de Igreja, para essa Páscoa sofrida, a única proposta é missa por internet. E se trata da missa romana, celebrada tal qual se faz em comunidade presencial, apenas transmitida virtualmente.

Na Bíblia, conforme o livro do Êxodo, a ordem de Deus é que as famílias celebrem a Páscoa com uma ceia familiar, cada família em sua casa. (Ex 12, 3- 4). Todo o povo de Deus é um “reino de sacerdotes” (Cf. Ex 19, 5- 6). Não havia sacerdotes profissionais. Quem celebrava eram os pais de família em suas casas. Até hoje, nas casas judaicas, ao cair do sol da sexta-feira, são as mães que acendem as velas e cantam a bênção do Shabbat. Essa é a raiz da fé cristã.

No cristianismo primitivo, conforme os Atos dos Apóstolos e o testemunho das cartas paulinas, as comunidades cristãs não tinham templos. Deus queira que, apesar de tanto sofrimento, essa crise nos possibilite a graça de um Cristianismo menos clerical. Que o Espírito nos inspire celebrações mais próximas à ceia de Jesus no evangelho e à forma de celebrar dos primeiros cristãos. Eles não tinham ainda essa divisão tão rígida de ministérios ordenados e os não ordenados. Nem por isso eram menos fieis a Deus ou menos católicos do que nós. Essa forma de orar e celebrar não é para substituir a nossa comunhão diocesana ou paroquial. Ao contrário é para aprofundá-la. Continuamos agradecendo a Deus a alegria de ter bispos e padres, para nos confirmar na fé e nos animar na caminhada. Graças a Deus, cada vez mais, na linha do papa Francisco, temos bispos e padres que não retêm para eles o controle absoluto dos bens sagrados, como se lhes pertencessem e sim se colocam juntos com todos os irmãos e irmãs batizados para testemunhar: Cristo ressuscitou. Isso significa: o amor vence o ódio, a maldade e a morte. Amém.

 

 

 

 

 

 

 

Edição: Monyse Ravena