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Comitês populares nas periferias são exemplos de solidariedade no combate à pandemia

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É preciso organizar-se para que essa pandemia não seja uma tragédia, sobretudo para os mais pobres - Alex Ribeiro /Agencia Pará
Na ausência de ações qualificadas do governo, precisamos assumir esta tarefa com as nossas mãos

Queria compartilhar com vocês uma iniciativa muito importante e que considero urgente a ser realizada em todo o Brasil, iniciada pelo pessoal do Jardim São Luís, periferia da Zona Sul, aqui da cidade de São Paulo (SP).

É um comitê popular para o enfrentamento do covid-19. Esta é uma ação urgente a ser realizada por todos aqueles que amam a si próprios e que amam o nosso povo. 

Se o governo federal, os governos estaduais e os governos municipais não estão dando conta de agir com a força e a intensidade que são necessárias para fortalecer o SUS e mobilizar a população para as medidas preventivas, o povo tem que fazer com as próprias mãos.

O governo federal de Bolsonaro sabe da epidemia do coronavírus, pelo menos desde dezembro do ano passado. Desde janeiro e até hoje nenhum novo leito de unidade de tratamento intensivo (UTI) foi aberto no Sistema Único de Saúde pelo governo federal.

Nenhum médico foi levado pelo governo federal para uma Unidade Básica de Saúde (UBS), para o Saúde da Família, para as áreas indígenas, muito pelo contrário, o edital do Mais Médicos que foi lançado agora nesta semana, teve que admitir que, sem os médicos cubanos que estavam aqui no Brasil, não será possível enfrentar o coronavírus. 

Então está se fazendo um edital suplementar para os médicos cubanos, mas mesmo assim estão deixando de fora milhares de jovens médicos brasileiros formados no exterior que poderiam estar atuando de imediato na atenção básica de saúde, na saúde da família, cuidando do nosso povo e, consequentemente, evitando os casos mais graves. 

Por isso nós precisamos assumir esta tarefa com as nossas mãos, com a solidariedade que só existe na periferia, nas camadas mais populares. Para que essa pandemia não seja uma tragédia, sobretudo para os mais pobres.

Os primeiros óbitos mostram inclusive isso. É verdade que os primeiros casos registrados no Brasil atingiram a alta classe média que havia viajado para o exterior. É verdade também que a segunda geração de casos, inclusive os primeiros óbitos, tem uma relação direta com os empregados domésticos desta alta classe média. 

Por isso é fundamental a organização de comitês populares na periferia, como está sendo feito pelo pessoal do Jardim São Luís. Comitês populares emergenciais de enfrentamento à covid-19. 

Estes comitês populares têm, ao meu ver, três focos principais. 

Primeiro, os idosos que vivem nessas periferias. Eles precisam ser mapeados: em que casas estão? Qual a condição destas casas? se tomam medicamento de doença crônica, como estão tendo acesso a estes medicamentos? É fundamental o contato com as UBS, com as equipes de Saúde da Família locais, com os agentes comunitários de saúde que tenham estes dados em relação aos idosos.

É muito importante que em uma casa onde resida um idoso exista uma garantia de provimento de máscaras cirúrgicas, para que quando alguém passe a estar suspeito de infecção, de imediato, este material esteja disponível para esta família.  

O segundo foco são os empregados e empregadas domésticas. Muitos deles estão perdendo a sua renda, por estarem tendo os seus contratos cancelados, ou então estão sendo expostos no dia a dia do trabalho, por uma parte da elite que considera seus empregados e empregadas domésticas como se fosse alguém desprovido de direitos, como se fossem sub-humanos. 

E o terceiro foco são os milhares de trabalhadores e trabalhadoras da saúde que moram na periferia. Nós temos técnicos de enfermagem, enfermeiros, médicos, agentes comunitários de saúde, técnicos de laboratório, que trabalham no dia a dia no enfrentamento e no cuidado das pessoas com coronavírus que moram na periferia. Eles precisam ter total solidariedade nossa, não só apoio, solidariedade e orações, mas uma rede de apoio, pois precisarão fazer mais plantões, precisarão se dedicar ainda mais, muitas vezes deixando seus filhos com outras pessoas. 

Portanto, estes comitês populares precisam ajudar a organizar essa solidariedade. Aquilo que o governo federal não está fazendo, tem que ser feito pelas mãos do povo, para salvar e cuidar do nosso povo. 

Edição: Rodrigo Chagas