Pernambuco

Coluna

Por uma Igreja sinodal e a partir da Amazônia

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Indícios apontam que a Terra Indígena Yanomami foi atacada de diversas formas pelo garimpo ilegal na região, sem ser incomodado pelo governo de Jair Bolsonaro - Foto: Christian Braga/Greenpeace
Na Amazônia, o destino da humanidade e da vida está sendo decidido

Neste domingo, 06 de outubro, o papa Francisco abriu em Roma mais um Sínodo extraordinário dos bispos, representantes do episcopado de todo o mundo católico. Essa sessão do Sínodo tem como tema “A Amazônia, o desafio da Ecologia Integral e a Missão das Igrejas”.
Cristãos e não cristãos, amazonenses ou não, só podem se alegrar com o fato de que o papa Francisco convocou uma sessão extraordinária do Sínodo sobre a Amazônia e seus desafios para o mundo e para as Igrejas. Há dois anos (2017), desde que o papa anunciou esse sínodo, aqui na América do Sul e em Roma, se iniciou um processo de preparação. A Amazônia tem sido centro de atenção, tema de estudos e de interesse para as comunidades e organizações de todo o mundo. Nesse Sínodo que começou ontem em Roma, há algumas coisas novas:
O documento preparatório ao sínodo afirma que pastores e fieis, todos são convocados por esse Sínodo a escutar o que o texto chama “a voz da Amazônia”. Está se referindo às culturas tradicionais dos diversos povos que habitam a região pan-amazônica. Na segunda parte do instrumento de trabalho, a proposta é escutar o clamor da terra e dos pobres. E a terceira parte propõe uma Igreja profética que escuta e se insere na realidade da Amazônia.
Até os nossos dias, a missão das Igrejas cristãs na Amazônia e em todo o continente ainda esteve ligada a uma cultura colonizadora e pouco inserida na realidade dos pobres. É urgente essa conversão. Ela se fará por uma Igreja que se ponha à escuta e acolha as culturas e tradições amazônicas como expressão do Espírito de Deus que conduz os povos e a vida. Por isso, a perspectiva do Sínodo não é como converter a Amazônia para a Igreja e sim como converter a Igreja para a Amazônia.
Muitos grupos propõem amazonizar toda a Igreja. Isso não significa exportar as culturas amazônicas de modo artificial a outros lugares. Esse sínodo chama a atenção para um fato: A Amazônia contém um desafio importante para todo o mundo. Na Amazônia, o destino da humanidade e da vida está sendo decidido. Ou encontramos um novo caminho de respeito às populações pobres, à terra, às águas e à própria vida no planeta Terra, ou sucumbimos todos. Ecologia integral une o cuidado com o ambiente, a justiça social e o próprio equilíbrio interior e pessoal. O Sínodo sobre a Amazônia vê a Ecologia integral como tradução concreta da proposta de Jesus no evangelho: a sinalização de que o projeto divino para o mundo começa a se realizar.
O atual sínodo dos bispos que o papa abriu nesse domingo em Roma conta com quase um terço de participantes leigos e leigas. Participam também do sínodo evangélicos representantes de Igrejas irmãs. Nos países da região amazônica, o processo sinodal de diálogo e de mobilização comunitária não vai parar.
“O que o Senhor nos pede, em certo sentido, já está contido na palavra Sínodo”, afirma Francisco. Caminhar juntos: leigos, pastores e o bispo de Roma como forma de ser Igreja. Trata-se da corresponsabilidade e participação de todo o povo de Deus na vida e na missão da Igreja. Isso supõe uma Igreja descentralizada, atenta aos processos locais e em comunhão com as outras Igrejas irmãs e com a Igreja universal.
É preciso fortalecer os “organismos de comunhão” para tomar decisões pastorais. É preciso traduzir em instrumentos institucionais a compreensão do sensus fidei (como os fieis interpretam a fé). Esse caminho em comum vai continuar suscitando uma Igreja mais igualitária e de comunhão, como é do desejo de Jesus. Antigamente, os pastores ensinavam que a Igreja deveria ser ensaio de um mundo novo. Na Amazônia, berço de tantas culturas extremamente comunitárias, essa vocação suscitada pelo Evangelho ainda é mais forte e profunda.

Edição: Vanessa Gonzaga