Bahia

RESGATE

Editorial: Da Revolta dos Búzios a Lula

Sobre revoltas, contrarevoltas e aprendizados

Brasil de Fato | Salvador (BA) |
As quatro lideranças da Revolta dos Búzios foram enforcadas e esquartejadas em praça pública.
As quatro lideranças da Revolta dos Búzios foram enforcadas e esquartejadas em praça pública. - Divulgação

O nascimento do Brasil de Fato Bahia é marcado pela Revolta dos Búzios. Na edição zero resgatamos os exemplos dos “boletins sediciosos” utilizados na Revolta e, agora, sete meses depois, cá estamos, iniciando as nossas edições periódicas. Em agosto de 1798, há 220 anos, a Revolta dos Búzios acontecia. Aqueles foram tempos marcados por crises e revoltas. Em 1776 a Independência dos EUA, em 1789 a Revolução Francesa e em 1791 a Revolução Escrava em São Domingos. No Brasil foram tempos marcados por conflitos entre o progresso e o atraso. Entre os progressistas estiveram brancos, livres, proprietários poderosos, mulatos, soldados, trabalhadores e escravizados. Entre esses, haviam interesses diferentes, apesar da unidade contra a Coroa Portuguesa e tudo que vinha com ela. Quando a revolta foi desmontada, os “proprietários revoltosos” decidiram colaborar com a justiça e entregar os líderes. O resultado foi o enforcamento e esquartejamento de quatro homens livres, pobres e mulatos na Praça da Piedade.
O autoritarismo é, sem dúvida, uma das principais marcas da nossa elite que, independente de conflitos entre si, sabem muito bem qual o lugar do povo no seu projeto. Não hesitam em criminalizar líderes populares e apagar da nossa memória as nossas histórias de luta e resistência. Assim foi, e continua sendo, de Búzios à Lula. Em tempos de crise – como os que vivemos hoje –, a nossa elite se unificou rapidamente para desmontar a democracia e criminalizar líderes populares. Deixando de lado as divergências entre si para desmoralizar e desmontar os instrumentos de luta do povo. Esse tem sido o modelo aplicado não apenas no Brasil, mas, em toda a América Latina.
O plano inicial das nossas elites, tendo como protagonistas o judiciário e a mídia, era de transformar o nosso maior líder popular – Lula – em um corrupto que chegou ao poder. Uma narrativa construída todos os dias, a de que o poder corrompe, ganharia um exemplo histórico, num julgamento, considerado por eles como espetacular. Contudo, o plano não saiu como pensado. Os setores democráticos e populares, organizados a partir da Frente Brasil Popular, em unidade e mobilização, conseguiram ir desmontando a narrativa que vinha sendo construída. Com a ajuda de todo o desgaste que o Projeto Neoliberal aplicado de maneira avassaladora (como tem sido) gera por si só.
Conseguimos transformar o impeachment em golpe, a reforma da previdência em greve geral e, a prisão de Lula, na farsa que ela sempre foi. É certo que, desde o golpe, as nossas derrotas têm sido maiores do que as nossas vitórias. Contudo, também é verdade, que o Judiciário, um poder antes da maior respeitabilidade, hoje coleciona grandes insatisfações, aprofundando a nossa Crise Republicana – algo terrível para o nosso país.
Contudo, como a história se “move” de maneira contraditória, a crise que vivemos hoje tem ensinado muito ao nosso povo. Temos aprendido em dias o que não aprendemos em anos.

Edição: Elen Carvalho